sexta-feira, 26 de agosto de 2011

A ÁRVORE DA VIDA, O FILME

                                                                     

Saí do cinema com a sensação de que faltava algo. Gostara sim, era bonito, cheio de signifIcados. Mas faltavam diálogos? Algo na narrativa? Faltava, talvez, mais conhecimento do livro de Jó para alinhavar os fatos e fazer a compreensão brotar dentro de mim.


Cheguei a minha casa e pude ler dois artigos sobre o filme. Agora sim, entendia e podia dizer que o filme era muito bonito. Mas, será que eu gostara? Essas informações tinham em dado o alívio de que eu precisava?


Não, não, ainda faltava algo. Verdade que eu sempre busquei história e texto no cinema. Beleza, também. Havia muita filosofia, mas faltava cinema. 

Acabei de ler a notícia de que o ator Sean Penn disse que não gostara da edição final e que seu papel era dispensável. Talvez seria melhor uma narrativa mais convencional e mais clara. O ator completa: “É um filme que eu recomendo contanto que a pessoa vá sem preconceitos. Cada um tem que achar uma conexão emocional ou espiritual. Aqueles que conseguem geralmente saem do cinema muito tocados”. 

Não posso dizer que o filme não me tenha tocado com tantas cenas lindas e situações intensas. Mas, concordo com ele. Foi abstração demais.

O MELHOR FOI O BIS

                     

Ontem, conheci um compositor austro-húngaro chamado Korngold (acima), compositor aos nove anos, que foi para a América em 1936 e compôs para cinema. Nunca foi perdoado por seus pares que o criticaram sempre por causa disso. Entretanto, fez sucesso de público e escreveu  um concerto lindo, tocado pelo violino do francês Renaud Capuçon : Concerto para Violino em Ré Maior, Op. 35 (1945).

Essa primeira parte do programa mereceu um bis do violinista. Então, ele solou (sem a orquestra) um tema de Gluck. Era uma melodia plangente, doce de fazer a respiração parar para ouvir melhor. O bonito músico tocou com toda a alma. Foi um momento de suspensão do corpo. Todos na enorme sala convergiram para aquela pessoa e se emocionaram com a expressão de seu som.

Na segunda parte, foi a vez de Prokofiev (ao lado), que não quis ser o segundo russo em Paris (onde havia Stravinsky) e nem na América (onde havia Rachmaninov). Foi para sua pátria e se submeteu ao governo da época e toda uma sorte de humilhações e frustrações. 

Mesmo assim, soube falar da alma soviética, vicissitudes do povo e de sua condição humana.  A maestrina Marin Alsop, se esmerou tanto que também teve que apresentar com a orquestra um bis. Ouvimos, então, uma peça de Edu Lobo, em arranjo especial, com uma série de solos de vários instrumentos e em ritmo bem brasileiro. Que Marin Alsop anunciou em português. 

Claro que gostei do programa prometido e realizado. Mas pela primeira vez, me agradaram mais ainda os dois números extras, não esperados.  Pela delicadeza do primeiro (abaixo, o bonitão)e pela vibração da orquestra e da maestrina no segundo.   

                                                                 

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

INCENTIVO À PESQUISA NA ALEMANHA

Hoje fui a uma palestra em que se descreveu um programa para o desenvolvimento de excelência na pesquisa alemã: The German Excellence Inciative (na Fundação Alemã de Pesquisa -Deutsche Forschungsgemeinscharf, DFG).

O responsável pela apresentação do programa demorou quase uma hora para das detalhes de como as instituições acadêmicas e outra não-acadêmicas têm se unido em volta dele para dar incentivo à qualidade do conhecimento que se constrói por lá.
Parece bem coisa de alemão, não é mesmo?

Mas, deu uma vontade louca de fazer o mesmo por aqui. Na área da Astrologia, por exemplo, a quem faria tanto bem um programas de incentivo à pesquisa desse tipo.

Lá, eles trabalham com muito dinheiro (são milhões e milhões de euros anuais), que vem também do governo (desde a crise de 2008). Desde 2005, em um esquema complexo de etapas. E já há o planejamento para a fase 2012/2017.

Com muitos critérios e parcerias, o trabalho vem se desenvolvendo. Fiquei imaginando se não haveria possibilidade de fazer algo em escala muito menor(menor mesmo) sem dinheiro (ai, que a dificuldade é grande). Acredito que sim.

Não há mágica. Há ações adequadas e movimentos pessoais estimulados por um programa de coletividade, de grupos.

Por que não?

PS:Fundação Alemã de Pesquisa (Deutsche Forschungsgemeinscharf, DFG),

terça-feira, 9 de agosto de 2011

MIA COUTO E A SABEDORIA DAS NARRATIVAS

             
Eu o conheci em uma palestra em um congresso organizado pela Associação de Leitura do Brasil. Era um estádio de esportes cheio de professores - talvez uns três mil -e ficamos em silêncio ouvindo com delicadeza suas palavras. Somente com delicadeza se pode entender o que ele fala. Ele deve escrever assim também. Sutilmente, escolhendo cada palavra, que segundo ele "hoje se despiu da dimensão poética.

No novo livro de ensaios, sobre seu possível ceticismo, diz que "a questão não está na dualidade entre crença e descrença, mas sim em interrogar a própria crença: temos de construir a fé na mudança do mundo antes mesmo de pensarmos. Quero dizer que o próprio pensamento não está certo; é preciso colocar em questão os instrumentos que nos levam a olhar o mundo."   

Diz que trabalha para desvendar a linha de demarcação entre ficção e ensaio. " O trabalho de  um romancista é tão solene e ligado à essência das coisas como o dos não ficionistas. A narrativa está presente nos dois lados e é isso o que importa."

E ela nos é necessária, Mia Couto. Ouvir histórias (ficção) e  pensamentos (ensaios) deve se fazer presente como parte de nossa vida, para, quem sabe, recuperarmos assim a dimensão poética que se perdeu no mundo.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

HOMENAGEM E EXPERIÊNCIA DE VIDA

                                       
A EXPERIÊNCIA E A ARTE 
    
Com quarenta e sete anos, risonho, irradiava toda a alegria pela homenagem que recebia naquela noite pelos trinta anos de trabalho como oboísta na Orquestra Sinfônica de São Paulo, onde chegara aos dezessete anos apenas. Seu pai, um sargento da Polícia Militar, o forçara a estudar música, assim como fizera com seu irmão, Roberto, maestro de sucesso).  Ele enxergou talento dos filhos. Olhar sábio.

E a noite foi sua, Arcádio Minczuk. As peças da primeira parte do concerto o fizeram primeira estrela, enquanto solava as melodias que sua respiração e alma assopravam.

Com a voz emocionada ele contou um pouco de sua vida com a orquestra: as alegrias e as dificuldades nas crises. Mas, dessa história, sobressai também a atitude paterna, a orientação da família que, embora imposta, deu certo. 

Porém, como saber o que está correto? O tempo diz se erramos ou acertamos, por uma ordem que não é lógica.  Não há cartilha para nos dar o caminho. Nesse caso, houve acerto e, pela disciplina e confiança; a arte construiu uma vida de sucesso. Que se faça também homenagem à atitude do pai!

Ainda naquela noite, na segunda parte do concerto, ouvi o ciclo completo (orquestrado somente) de Richard Wagner, em O Anel de Nibelungo. Uma de suas peças, As Valquírias, me lembrou um filme impressionante, Apocalipse Now. Intensidade e paixão, tons de drama. E a incrível cena de helicópteros se preparando para atacar.

Conversando com amigos, me dei conta de que para mim, aquele filme começava naquela cena com aquela música. E ela não sai da memória e é significativa em relação ao filme, mais ainda depois desse concerto em que senti todo o clima que inspirou Wagner em sua composição. 


É esse um dos poderes da grande arte: marcar experiências estéricas individuais. E, com sorte e afinco, marcar vidas, como a do oboísta na expressão correta de seu talento.