sábado, 20 de dezembro de 2014

AS ESCOLHAS DE MATHEUS NACHTERGAELE

Em uma entrevista, Matheus Nachtergaele, ator e diretor do cinema brasileiro contemporâneo, falou dos filmes de sua vida. Depois disso, fui verificar se em seu mapa algo que justificaria suas escolhas.  

O primeiro filme citado era um super oito, digitalizado de trechos com cenas familiares. Nele Matheus, que perdera sua mãe enquanto ainda era bebê, conheceu sua mãe na época da infância dela. Segundo ele, foi o presente mais bonito que o cinema lhe deu.

O segundo foi A balada de Narayama, filme japonês de 1983 de Shohei Imamura.  Conta a história (final do séc. XIX) de uma mulher que faz  sacrifícios para tornar melhor a vida de seus dois filhos e nora.

O terceiro filme citado por ele foi La Luna, de 1979 de Bernardo Bertolucci, que trata da vida turbulenta de um jovem e a relação com seus pais, especialmente com a mãe incapaz de educar e impedir que ele se perdesse em caminhos perigosos.

Fui ao mapa: 3 de janeiro de 1969 em São Paulo (sem horário de nascimento). Eu já tinha hipóteses, assim como você também deve ter. O aspecto que talvez seja o principal é Lua em Câncer. Mas ela está em oposição ao Sol em Capricórnio, indicando uma necessidade de equilibrar questões emocionais e de autoridade no mundo material. A conjunção de Júpiter e Urano em Libra dá–lhe a percepção da importância da educação e do conhecimento. Netuno (Escorpião) em quadrado a Vênus (Aquário) lhe faz sentir a falta do amor nas relações de forma frustrante passando por ilusões e desilusões. Mercúrio (Capricórnio) em trígono a Plutão (Virgem) surgiu na fala lenta e cuidadosa, na profundidade das colocações que procurava a palavra correta e mais adequada ao que interessava ser expresso.

Nessa entrevista ele abriu seu coração e vida de forma generosa, tendo marcado o papel da mãe nos filmes e na sua também, como uma maneira moral de se formar uma pessoa. Ele confessou que Odim (do filme japonês) fez o que sua mãe não tinha conseguido realizar por ter morrido muito cedo: o papel de educar e de cuidar dos filhos.



Foi uma oportunidade única de conhecer a sensibilidade e inteligência de alguém tão talentoso.  

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

DANDO SENTIDO À VIDA

Qual é a relação entre mitologia e astrologia? e dessa relação com nossas vidas?
 
No livro Astrologia Viva (Barcelona: Ediciones Obelisco, 2005), Barbara Shermer nos conta que os mistérios de Elêusis (rituais de iniciação ao culto de deusas agrícolas Deméter e Perséfone) funcionavam como uma vivência que poderia transportar os indivíduos a uma compreensão maior da vida. No nível mais explícito, eles significariam a morte e renascimento da natureza que alimenta a vida. 
 
No capítulo intitulado "A ASTROLOGIA E OS DEUSES" ela estabelece a relação desses ritos com a astrologia dizendo: "Os mistérios de Elêusis representavam a experiência morte-renascimento que os astrólogos reconhecem como o processo do arquétipo de Plutão na psique individual. Os arquétipos e mitos astrológicos dos deuses e deusas se inspiram nas mesmas fontes. A mitologia contém as manifestações particulares dos arquétipos em seus diferentes padrões. A astrologia incorpora dez destes arquétipos essenciais (e muitos mais) em uma linguagem para sua compreensão."    
 
Ainda segundo a autora, esse acontecimento ritual promovia uma comunhão e representação do mito que "ressoava com uma verdade que estava mais além da fronteiras culturais" e "proporcionava aos fiéis eleusinos uma experiência cósmica. Se os arquétipos astrológicos surgem dos mesmos reinos profundos e inconscientes da mente como deuses e deusas, então dar vida aos símbolos astrológicos deveria proporcionar o mesmo tipo de comunhão.
Se, por exemplo, aprendemos a expressar ativamente nosso Plutão, dando a ele vida conscientemente, então já não negamos ou reprimimos seu poder e assim podemos evitar as costumeiras explosões de emoção ou conflito que o caracterizam.
Ao encarnar a verdade simbólica deste planeta aprendemos a utilizar nosso próprio Plutão de uma forma mais consciente: penetrando em seu poder, transformando-o e assimilando-o."
 
Barbara Schermer sugere que nesse caso os planetas deixam de ser imagens mentais isoladas e passam a ser experimentados como ritmos vitais que revelam sentimentos subconscientes mais profundos e aspectos do ser não anteriormente expressados.
 
Daí que "O mapa deixa de ser então uma coleção de dados estáticos em branco e preto, unidimensional, com símbolos e signos inanimados e se converte em um campo em movimento de ação planetária: vibrante, interativo e vivo!"  
 
É isso. A relação entre mitologia e astrologia pode nos fazer ir mais além do nível explícito da vida material.
Ela nos abre a possibilidade de um significado maior em nossa experiência se tivermos uma postura de compromisso própria a um ritual ao entrarmos em contato com os símbolos do mapa astrológico.
Cabe a nós darmos abertura para essa possibilidade na intenção de dar mais sentido à vida.
      
(nossa tradução do texto em espanhol)  
 
 

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

RAZÕES PARA MORRER

Brittany Maynard, uma mulher jovem, recém- casada e bonita, apareceu na mídia por causa de sua decisão de se submeter a um suicídio assistido em razão de um câncer agressivo no cérebro. Isso gerou por aqui e em outros países debates a respeito de ética médica, de questões judiciais e religiosas.

O que chama a atenção é a idade em que se deu essa decisão na vida de Brittany, nascida a 19 de novembro de 1984, em Anaheim na Califórnia. No dia primeiro de novembro, poucos antes de completar trinta anos, ela deu fim a sua vida, rodeada de amigos com um coquetel de barbitúricos com prescrição médica.

Estava no final de seu Retorno de Saturno (outubro de 2013-novembro de 2014). Qual era seu desejo? Morrer com dignidade, já que não lhe sobrava muita alternativa de acordo com o diagnóstico médico, além da continuidade de dores insuportáveis em direção à morte.

Partiu em busca das circunstâncias adequadas a esse desejo, na fase do retorno de Saturno que é uma tarefa a ser cumprida e um exercício de autoridade em nossa vida. Ela conhecia suas limitações e tinha um senso de realidade (Vênus e Júpiter em Capricórnio). Ela sabia que tinha compromisso com o social a sua volta (Lua em Libra e Marte em Aquário).

Mas, para Brittany, tomar essa decisão talvez não tenha sido tão difícil mesmo tendo que romper com as expectativas mais simples da natureza humana que é viver:   Sol em conjunção com Saturno em Escorpião e em conjunção exata com a Cauda do Dragão. Decidir pela morte pode ter dado nova direção a sua existência, um sentido às aspirações de sua alma. Foi uma decisão com a força de sua inteligência brilhante e visão mais ampla dos desígnios da vida (Mercúrio em conjunção com Urano em Sagitário).

Talvez ela tenha contado com outro trânsito importante para essa decisão (além do Retorno de Saturno): o quadrado de Plutão/ Urano em trânsito no seu quadrado natal Lua-Libra/Júpiter-Vênus Capricórnio. Esse conjunto pode ter  assoprado no ouvido de Brittany a existência de outros limites imponderáveis de liberdade depois desse contato com uma realidade incontornável.  Junte-se a isso um chamado da alma, uma intimidade solitária e responsável sendo mobilizada.

Em suas últimas palavras, ela professa o único sonho que lhe cabe, pensando em outras pessoas em situação parecida à dela. Manifesta então uma noção dura da existência colorida por uma visão idealista e nobre.

Por amor, um tipo em que entra Vênus/Júpiter em Capricórnio e os desígnios dos outros signos de seu mapa natal, ela diz: “My dream is that every terminally ill American has access to the choice to die on their own terms with dignity. Please take an active role to make this a reality.” – Brittany Maynard, October 24, 2014






terça-feira, 25 de novembro de 2014

QUANDO A GENÉTICA NÃO FAVORECE

O pai era um senhor alto, grandalhão, bem vestido, de pasta, óculos e terno impecável. Possivelmente do time dos executivos.

Ao preparar a leitura de seu mapa, detectei como elemento predominante o fogo que promete disposição e atividade fortes, vontade dinâmica e masculina. Pude detectar tais características em seu comportamento. Ele seria facilmente identificado com uma mistura de vontade e idealismo, importantes dados que movem o mundo. A leitura de seu mapa foi interessante e ele me ouviu com olhos atentos de quem estava desejando saber a respeito de seu mapa natal. Não houve surpresa: era da equipe dos executivos bem sucedidos.   

Depois, era a vez do mapa natal do filho que indicava um contexto diferente. O jovem mostrava uma disposição delicada e talentosa para as artes, com predominância do elemento água.

Por Batman, por todos os deuses do Olimpo e até pelo velho Conan!, a situação era difícil, pois o adolescente estava sendo encaminhado para a escola militar.

Sua natureza quase feminina, talvez reagisse mal a essa circunstância autoritária e disciplinadora. Mas, por outro lado, a fase astrológica que ele passava indicava uma época de aprendizagem e de limitações. Poderia ser então benéfica. Seria? Estariam os adultos a sua volta atentos para os paradoxos dessa situação e preparados para dar suporte ao rapaz no novo contexto?

Como astróloga eu não poderia levar em conta meus desejos pessoais, certamente. Não cabia a mim, torcer a favor do menino ou desejar que o pai tivesse uma atitude educativa diferente. Neste momento era impossível indicar uma educação de cunho mais humanista. Tudo já estava planejado e era um sonho do pai.

Que a humildade esteja sempre presente ao lado do astrólogo profissional especialmente quando ele está em frente ao cliente! Quem sabe o que a vida promete para as pessoas? Que mistérios escondem a presença desse filho na vida de seu pai? Quem é a astróloga para dizer algo a respeito dessa questão tão familiar e misteriosa?  
Lá estava eu com a questão inevitável: dizer para o pai a verdadeira natureza do rebento. Normalmente os pais, bem no fundo de seu coração, desejam ouvir que seu herdeiro, também o é de suas qualidades pessoais.

Procurei observar aquela pessoa à minha frente, enquanto eu ia desfiando as ideias a respeito do mapa do filho. Haveria decepção? Frustração? Rebeldia perante uma brincadeira da genética?

Mas, quem sabe se essa não seria a natureza da mãe? Ela era já falecida. Não obtive outras informações a seu respeito. Mesmo procurando com jeitinho questionar a esse respeito, esse detalhe não pareceu importante ao pai.

Ele estava na minha frente e eu lhe passei a informação que ele tinha vindo buscar. Não vislumbrei reação que pudesse me dizer seus sentimentos.

Não houve abertura para outras abordagens da questão que me preocupava. Eu tinha uma notícia a dar. Como síntese, o meu discurso disse: seu filho é um artista. Que ele faça bem a escola militar com sua ajuda e presença, parceiras importantes no tempo e espaço dessa experiência.

Mas, meu coração desejava de mansinho: deixe-o ir por esse caminho, se um dia o desejar. Ainda que seja após a escola militar. Que ele cumpra a tarefa da família e que ele possa viver todos os lados de sua natureza.

Será que isso aconteceu?
            
    

    


sexta-feira, 21 de novembro de 2014

FOTÓGRAFO MESTRE, LEO DIVENDAL

Em setembro deste ano, participei de um workshop com um fotógrafo holandês. Foi uma imersão no mundo da imagem e da beleza. Quis descobrir qual é a marca da autoria em fotos. Além disso, observei a tarefa de um grande profissional da fotografia que é também mestre em ensinar. Leia a seguir um pouco dessa experiência.

A  MARCA PESSOAL NA FOTOGRAFIA
leo_divendal_out14.pngCaso o workshop fosse uma furada para mim, eu estaria salva pela beleza do Parque Ibirapuera. A oficina de dois dias chamava-se A linguagem pessoal da fotografia. E o holandês Leo Divendal pedia que levássemos de dez a quinze fotos que seriam ponto de partida para o trabalho a ser realizado. 

Não sou fotógrafa nem tenho interesse em me tornar profissional nessa área. Mas a curiosidade me levou ao MAM. Grudei nesse chamariz: o que seria a linguagem pessoal para o Leo Divendal? Como se cria a marca de uma autoria na arte fotográfica? 

Pensando essa arte como representativa de algo pessoal, atravessei as paredes de vidro do museu. No fundo, eu exagerava na ansiedade. Estava crente de que me dirigia ao encontro de mim mesma com Leo, o leitor de pessoas nas fotos. Sem ter intenção de descrição jornalística, passo neste relato pessoal um pouco do ocorreu naqueles dois dias.

Leo Divendal, a partir de inúmeras atividades, se dedicou a nos ensinar como olhar fotos e de como criar climas para a obtenção do que queremos.

Contou sua experiência pessoal em uma viagem em que desenvolveu um trabalho fotográfico. Era um navio mercante com tripulação filipina. As fotos de sapatos dos vinte trabalhadores desse navio contaram histórias de seus donos. 


Abriu na mesa em volta da qual nos reuníamos, inúmeras fotos de uma mesma paisagem com rochas, praia e ondas, banhistas no mar. Várias perspectivas e angulações compunham uma pesquisa com passos e estratégias pensadas para que decisões fossem tomadas e para tornar as coisas mais precisas. Precisas? Bom, certo tipo de precisão, pois segundo ele, Todo espaço tem elementos conhecidos e outros a serem descobertos. É necessário tirar as camadas, uma a uma cada vez mais na direção do interior. 


leo_divendal_3_out14.pngTrouxe também cartões postais antigos, com selos e escritos com caneta a tinta. Mostrou um pequeno desenho de Rembrandt de uma mulher na janela, olhando para fora. Mas, e ele nos pediu atenção, era um olhar para dentro também, em vários níveis internos e externos. Citou o fotógrafo francês Jacques Henri Lartigue (1894-1986). 

Foi um apanhado de possibilidades nesse primeiro dia que acabou com uma análise das fotos trazidas por cada um dos seis participantes. No segundo dia, ele desdobrou uma análise ainda mais vagarosa dos arranjos preparados em casa. Com sutileza tirou do conjunto deles a alma de cada um de nós.  

O GRUPO

O grupo mostrou a que veio e Divendal deu seu recado.

Demerson trouxe dois conjuntos de fotos. No primeiro, ele fotografa uma festa e é subjugado por ela, - capturado e roubado de si mesmo. Na segunda série, ele pôde entrar em mais profundidade multiplicando imagens de ondas do mar com espumas ou movimentos. Nesse mar, ele cresceu. 

Para Gi, Leo sugeriu que reavaliasse sua impulsividade, já que ela reage rápido demais ao que sente. Sugeriu então que investigasse a linha das sensações, perguntando o que faz a conexão entre elas.  Disse ainda que era necessária a consciência da distância sem perder a continuidade no tempo, a permanência. 

Seguiram-se os conjuntos de Lara que contam histórias, as fotos de Júlia com suas colagens e intervenções. Por que não mais algumas colagens nessas outras fotos?, desafia ele.

 E ele também leu o livro de fotos de André, com suas páginas negras e brancas provocando pausas e o deixando ao final sem fôlego.

As minhas fotos? Um conjunto sem critério, a não ser o gosto de ir juntando imagens pelas viagens, flores e paisagens urbanas.  Depois de eu lhe confessar meu real interesse na fotografia enquanto representação biográfica, ele me questiona: Você quer mais? Vi-me no confronto com o desconhecido. Nunca tinha pensado a respeito de ir mais longe. Será que eu queria?

Assim como ele descobriu a ansiedade de Gi e a distração subjetiva do rapaz a se perder, ele revelou de mim certa duplicidade, uma dúvida, paradoxo. Decidir como? 

LIÇÃO

As indicações de Leo iam mostrando como as fotos devem ser olhadas. Na verdade, como olhar a realidade externa. Estávamos aprendendo a olhar o mundo. Aprendíamos a trazer as coisas para perto de nós, junto a outras imagens, textos e músicas.

Mas, ao fazer isso abríamos possibilidades de despertar imagens internas. Estabelecíamos ligação com os objetos, pela sensibilidade no olhar e pela intensidade do tempo, sem pressa. Todas essas ações contribuindo para a formação da linguagem pessoal de cada um. Assim como ele fazia ao estudar cada conjunto de nossos trabalhos. Sua fala era pausada - como seus gestos- e ele ia soltando as ideias devagar em um inglês arrastado com forte sotaque. 

Há necessidade de se dispensar tempo e energia para fazer foto, ele dizia. Ir do realismo ao impressionismo, chegar a uma atmosfera especial, descobrir uma coreografia.  Entrar no valor metafórico do que se vê. 

leo_divendal_4_nov14.jpgA beleza não precisa estar somente nos momentos mais previsíveis de beleza. Imagens-ícones por serem muito conhecidas tornam-se sem sentido, achatadas. Há beleza em coisas comuns. Porém, beleza é palavra generalizada. São possíveis nuances, interpretações, estímulos ao jeito de olhar. Processo que é também linguístico. É preciso criar beleza do mais geral para o mais pessoal.
   

Parece que entendi como se cria a linguagem pessoal: trazendo o mundo para perto de nós. Dessa forma, fotografamos a nós mesmos. Somos o que é expresso e quem constrói a expressão ao mesmo tempo. Essa é a marca da autoria.

Eu não sei se vou continuar pela fotografia, mas ao atravessar de novo as paredes de vidro do museu no momento de ir embora, sabia que levava comigo uma pergunta sem resposta: quero ir mais longe? Talvez seja suficiente chagar mais perto de mim mesma, como ensinou o mestre.
 


Levava comigo muitas ideias e imagens e, principalmente, a sensação de ter partilhado da companhia de um mestre, pelo planejamento das estratégias, pelo bom gosto do material selecionado, por sua atenção a cada participante, por sua competência.

E ainda trazia na memória a melodia de uma canção de que, em algum momento do trabalho, Leo cantarolou trechinhos. Era uma canção antiga de Paul Anka cujo refrão dizia: 


You are my destiny
You share my reverie
You are my happiness
That's what you are.

PS : As fotos ilustrativas são do Leo assim como o retrato. Leo Divendal  ( http://www.leodivendal.nl/  ) veio ao Brasil a partir de uma parceria com o fotógrafo Marcelo Greco ( http://www.marcelogreco.com )

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

SEMEANDO CONSCIÊNCIA

Esse título lindo foi o mote do primeiro congresso de astrologia no Chile (de 7 a 9 de novembro de 2014).Como primeiro, foi também um evento histórico. 
 
Eram cerca de 250 pessoas astrólogos profissionais, estudantes e leigos interessados no assunto reunidos na Universidad del Pacífico, hospedados pelo setor de Psicologia da academia. 
 
Os três organizadores Pablo Flores Laymuns, Mônica De Simone Paoletta e Ximena Brajoviv Estellé trabalharam ao longo do ano, por muitos meses até poder comemorar seu feito realizado com sucesso.  
 
Seu objetivo principal foi possibilitar à comunidade astrológica chilena um espaço de reunião e trocas de conhecimento. 
 
Para isso foram convidados astrólogos locais e dois internacionais (Brasil e México) que por dois dias e meio puderam compartilhar seus saberes.
 
Os assuntos variados passaram por tópicos próprios á teoria astrológica (Trânsitos, Quadrado T, Lilith, Quíron, Método Hubner), assim como por temas ligados a abordagens contemporâneas em que se observa a mescla de áreas (Astrologia Védica, Cabalística, Ancestrologia).   
 
Foi uma surpresa para os organizadores a acolhida que o evento recebeu do público que estava comovido e safisfeito pelo que tinham vivenciado. 
 
Assim inaugurou-se a era dos eventos em Chile com uma aura de real harmonia entre os participantes em torno da astrologia e da busca de  conhecimento. 
 
Para outras informações, visitem:http://www.congresoastrologia.cl/
 

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

O DESCONFORTO DOS PLANETAS "EXILADOS" (SÍLVIA CERES)

Eis um artigo de Silvia Ceres (astróloga argentina) em que se discute o aspecto teórico do Planeta em Detrimento.
 
Ela nos traz informação a respeito do sentido de exílio entre os gregos que, segundo ela "[el exilio o el destierro] era una severa condena para el ciudadano de la Grecia clásica."  
 
Ela diz mais: "Devenir extranjero, significa entre otras cosas, entrar a un territorio cuyo código resulta ajeno, desconocido. Perder la lengua materna, no se reduce a un problema intelectual sino principalmente a un asunto emocional de percibirse desenraizado, extraño para sí mismo."
 
Sílvia Ceres nos convida a ir além da polaridade "benéfico/maléfico" e amplia a compreensão desses conceitos importantes da teoria astrológica.
 
Ela ainda cita Morin de Villefranche, interessante fonte bibliográfica, para desenvolver suas reflexões.
 
Para além do didático. Não percam.
 
 
 

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

COMPOSITOR E INTÉRPRETE


Existe uma relação delicada entre compositor/autor e o artista que executa/receptor. Quais são os aspectos que merecem nossa atenção?

Uma entrevista com Lang Lang jovem pianista chinês, com mais de quinze anos de carreira de sucesso pelo mundo e que esteve recentemente no Brasil, nos conta como acontece essa relação para ele.

O jornalista João Luiz Sampaio pergunta: "À medida que amplia seu repertório, você sente que estabelece novas conexões entre os compositores e suas obras?"

Lang Lang indica inicialmente uma relação física de que participa o instinto: "É como uma enorme rede biológica. No começo você aprende Bach, Mozart, Beethoven. Mas você não consegue realmente entender a conexão entre eles, é difícil compreender, quando se é muito jovem, uma sonata de Beethoven." Segundo ele, as peças do período romântico (Chopin, Liszt, Rachmaninoff) "são mais fáceis, não em termos técnicos, mas espiritualmente, digamos. O instinto aqui, fala mais alto".

Depois dessa fase haveria, segundo ele uma necessidade de "conhecimento": "Só que, com o tempo, o instinto não basta e você começa a sentir falta de conhecimento, de aprender a música de outra forma, analisá-la, encontrar sentido no que você está fazendo."
Entre essas duas fases haveria uma passagem temporal, pois "Quando se é jovem demais, não há direção."

E ele termina: "Como intérprete, você precisa entender o que está tocando e por que está tocando e por que está tocando desse ou daquele jeito. E aí você sente a necessidade de voltar a Bach, Beethoven. Só que ao fazer esse retorno, você já sabe melhor onde quer chegar, qual o seu foco. Quando se é jovem demais, não há direção. E depois de entender melhor Mozart, você passa a ver Beethoven de outra forma, e depois Brahms, Schubert, e assim por diante. Aí a conexão fica clara."

Podemos dizer que há intervalos físicos e temporais entre compositor e intérprete. A rede biológica que ele cita seria uma dificuldade física a ser superada, uma diferença para se chegar ao compositor. A conexão entre eles se faria apenas a partir de certo conhecimento em que entra o tempo e naturalmente a maturidade do músico intérprete. Uma gradação na experiência do executante/receptor para bem realizar sua tarefa.

Essa mudança de foco no intérprete representa um salto de qualidade na leitura da obra musical.

Podemos ampliar a compreensão e imaginar que muitas de nossas experiências poderiam passar por esse crivo.

Mas, dependerá de nossa capacidade de observação e de avaliação de nossas atitudes.

Essa qualidade poderia fazer parte de nossa leitura do mundo, que seria assim enriquecida.

Muito linda é essa personagem da arte, esse jovem pianista que nos empresta sua aprendizagem.     


quarta-feira, 29 de outubro de 2014

A MAGIA, SEGUNDO WOODY ALLEN

A crítica disse que o filme era fraco dentre os outros do seu diretor. Mas era Woody Allen. Você sabia que aos quinze anos, ele já tinha começado a escrever para colunas de jornais e programas de rádio? Sua obra é extensa e variada. Sem culpa, me dei o tempo para ver qual é a magia que vem do luar, segundo ele. Descobri que nesse filme há mais de um tipo de magia. O próprio cinema é magia. Saiba mais lendo o texto a seguir.


O CONFLITO NARRATIVO

You do something to me 
Something that simply mystifies me //
You have the pow'r to hypnotize me 
Let me live 'neath your spell
Cole Porter

Stanley (Colin Firth), que interpreta o famoso ilusionista chinês Wei Ling Soo, é mestre em identificar charlatões. Ele é convidado por Howard, amigo de longa data, a desmascarar uma jovem com poderes mediúnicos que encantou uma família rica e também o jovem herdeiro Brice que está apaixonado por ela. 

Ele topa a parada e conhece Sophie (Emma Stone) que tem beleza ingênua, inteligência e sagacidade  a ponto de se sustentar calmamente perante sua presença desafiadora. 

Enquanto o noivo caricato canta canções em seu ukelele, Sophie desenvolve as sessões mediúnicas agradando a senhora matriarca da família. E Stanley fica intrigado com os poderes que ela demonstra.

O lindo cenário do sul da França e a beleza da fotografia não escondem a discussão filosófica que se desenrola à la Woody Allen. Tiradas imprevisíveis, provocações, ironias leves e cômicas. As perguntas passam por este tema: existe mais do que o mundo real em que vivemos? 

As duas personagens centrais servem de apoio para o debate do tema. 

Ele é crítico, perfeccionista e sarcástico, não se preocupando em ser antipático, aceitando-se como arrogante. Confessa o bom senso e a lógica como prioridade. De acordo com o diagnóstico do psicanalista-personagem, Stanley é homem depressivo e infeliz. 

Por sua vez, Sophie nasceu em cidade pequena americana. Descreve-se de forma objetiva e simples: teve uma infância difícil com a mãe e desde cedo aprendeu a sobreviver. O que ocorre com um pragmatismo eficiente. 

Esses são os dados básicos a partir dos quais a história se delineia.  

MAGIA AO LUAR

A infelicidade humana é inexorável para o cético e ranzinza Stanley. Porém no contato com Sophie, acontecem mudanças. Aos poucos, há aberturas para novas atitudes. Depois da surpresa dos primeiros momentos com Sophie e da noite sem dormir, em crise e ao som de Beethoven, ele se permite viver alegria. Clarões de otimismo começam a habitar seu mundo e o vemos com um sorriso nos lábios. Observamos momentos de suspensão em seu ceticismo.

Nesse namoro com o otimismo ele é até visitado pelo poder da fé quando a tia querida passa por um acidente grave, submetendo-se a intervenção médica. Como não ser crédulo em um momento de muita dor e iminente possibilidade de perda? Stanley inicia então um diálogo com Deus (quase uma oração em voz alta) que dura o tempo de umas poucas frases. No meio de uma delas, ele para. Irritado pelo deslize, recomposto após essa experiência de delírio, ele volta a seu estado natural de racionalista convicto. Para quê buscar a esperança onde não há?  

A narrativa entra e sai do ceticismo. Esse balanço cria um movimento de suspense. Stanley continuará cético? Sua resistência sucumbirá à presença de Sophie? 

Mas a cena mais importante do filme não é esse diálogo de Stanley com Deus. Depois de tomarem chuva, ambos se protegem em um observatório astronômico. Quando a chuva passa, ele se lembra de abrir a cúpula para olhar o céu. Para ele, olhar o céu é amedrontador. Para ela, é romântico. Por que motivo o tamanho enorme do mundo o assustaria? 

Eles olham pela abertura do observatório onde se vê a lua, fina e delicada. Não é necessário mais do que essa pequena fresta para adivinhar todo o imenso céu e sentir a magia do luar. 

Depois do contato com a médium, mesmo se Stanley não chega a acreditar em outro modo de pensar a existência humana, se continua resistente em seu ceticismo, sua vida nunca mais será como antes. A inteligência racional não o defende do amor. Sophie tem o charme da beleza. Será isso? Como explicar o feitiço do amor?


REALIDADE, MÁGICA E MISTÉRIO

A magia está presente no título do filme e perpassa toda a narrativa. A palavra inglesa magic ganha em português pelo menos duas traduções: magia e mágica. Além dessas palavras temos outras ligadas a essas: encantamento, fascinação, atração, mistério. Cria-se um campo semântico especial ligado a esses significados. A narrativa se divide: ceticismo e realidade? Ou magia e mistério de Deus? A racionalidade é suficiente para explicar a vida?

Parece-nos que tais questões fazem parte do repertório de Woody Allen em muitos de seus filmes. E há também a magia do cinema que ele sabe utilizar para contar histórias. O ofício do cineasta é ser ilusionista nos levando a um mundo mágico de luzes e sombras em que tudo pode acontecer. Ele é um ótimo ilusionista pervertendo a realidade, transbordando limites dela, surpreendendo-nos com verossimilhança em todas as situações. Como não acreditar em suas histórias?

E como o próprio Stanley, talvez Woody Allen continue o cético e pessimista de sempre, mas seu alter ego nesse filme - a querida tia de Stanley- diz para o sobrinho: O mundo pode ter ou não ter lógica, mas não é ausente de mistério. Essa magia não é a arte do mágico chinês de Stanley ou a dos truques de Sophie. A tia talvez esteja falando de níveis imponderáveis da vida entre os quais se inclui o amor.

Permanecemos com dúvidas e com incoerências difíceis de explicar, mas com uma sensação de que algo fechou bem. As amizades não se desfizeram apesar das traições, as pessoas não sofreram apesar das mudanças de trajeto e abandonos. O diretor salva a história. Ele só não consegue apagar o retrato da natureza humana com suas misérias e precariedades.

Esta comédia chega a um happy end quase improvável. Se houve frustração em algum telespectador, não foi sem um aviso lá no início do filme, com o jazz impecável de Cole Porter, a respeito de um feitiço que aprisiona. Não teria sido um convite para entrarmos na sedução do cinema?  

Talvez tenha sido uma escorregadela do diretor falando do amor que faz da vida um local de magia. Mas, sem dúvida, trata-se de um imperdível, solar e lindo filme romântico. 


PS 1: Das resenhas que eu li, indico a de Isadora Sinay:http://www.posfacio.com.br/2014/08/28/critica-magia-ao-luar/



sexta-feira, 24 de outubro de 2014

COLE PORTER, O MÚSICO


A primeira música da trilha sonora do filme de Woody Allen (Magia ao Luar) é do Cole Porter (You do something to me).

A peça "Anything Goes" escrita em 1934, com a trilha sonora de sua autoria, iniciou temporada em abril de 2011 e ainda está em cartaz na Broadway, em Nova York.

E no jornal O Estado de S.Paulo de 12 de outubro, li a notícia do lançamento de um trabalho de John Wilson Orchestra "Cole Porter in Hollywood" , que embora não receba elogios do crítico João Marcos Coelho, merece seu comentário pelo autor homenageado.


Essas citações têm por objetivo ressaltar o valor do músico Porter, ainda tão presente no cenário musical de hoje em dia, cinquenta anos após sua morte (1964).O músico tem em sua história mais de 800 canções e segundo o crítico ao menos uma centena delas é "ouro puro".

Então, quem é Cole Porter? Diminuindo a dimensão da pergunta: como se apresenta a qualidade artística desse músico no seu mapa astrológico?

Ele começou seus estudos de música com seis (violino), aos oito (piano) e aos dez (com a ajuda da mãe) escreveu sua primeira opereta. Essa mãe foi atenta a sua vocação e o incentivou. Assim, ele desde cedo fez seu caminho e desenvolveu uma sólida formação musical. Foi um gênio lapidado. Talvez por isso se mantenha presente ainda hoje em dia.

João Marcos Coelho diz que ele compôs "música complexa com letras refinadas", e segundo outro crítico, David Schiff, sua "melodia é altamente cromática e a harmonia mistura o tempo todo os modos menor e maior, remetendo a Schumann e Brahms"/.../ "soa como simples canção, mas tente encontrar as notas e os acordes no piano".

Como podemos perceber por esses comentários, ele desenvolveu uma música com características especiais.  

Apesar de não termos o horário de seu mapa natal, utilizamos  como ponto de partida nesta rápida avaliação o repertório do Astro-databank, e seguimos o desenho que esse site aceita como adequado (diminuindo um pouco as órbitas dos aspectos). 

O que inicialmente chama a atenção é a presença dos três signos indicadores de vocação artística: Vênus e Mercúrio em conjunção (Touro), Júpiter em Peixes e Urano em Libra. Ou seja, não lhe falta sensibilidade artística. Nem humana, pois tem Lua em Câncer (generosa presença da mãe).

O regente do signo do Sol (Mercúrio) no signo de Touro em conjunção com Vênus (domiciliado) marcariam a busca de expressão efetiva (signo de terra) e esteticamente refinada de seu talento.

A curiosidade estaria ao lado dele o tempo todo (Sol, PLutão , Netuno e Caberça do Dragão em Gêmeos). Com Urano em quadrado com a Lua, ele era um tanto impulsivo, mas também inovador e solitariamente inquieto.

Uma ênfase em signos mutáveis pode indicar a rica e fecunda produção de seu talento, a partir de uma imensa inquietação e entusiasmo (Sol em Gêmeos em quadrado a Júpiter em Peixes). Levando em conta o outro quadrado do Sol a Saturno (formando um T-quadrado), supomos que esse Sol teria lutado muito para se expressar. Mas é em signo mutável e ele encontraria modos de o fazer.  
A ênfase no elemento Ar e essa qualidade Mutável desenham o perfil de seu mapa. Houve muito movimento em sua atuação artística e ele não deixou de compor a não ser muito no final de sua vida.

As qualidades enumeradas de seu estilo como a “melodia cromática” e a complexidade refinada de suas letras seriam a expressão da conjunção Plutão e Netuno em Gêmeos o que conferiria essas qualidades diferenciadas e o tom intelectual intenso na qualidade de sua composição musical.

O Nodo Norte junto à conjunção Plutão e Netuno em Gêmeos pode indicar um chamamento de vocação para desenvolver um papel em sua geração, um impulso que viria de um nível sensível. Sua revolução viria pela linguagem da sensibilidade e da inspiração.

Apesar de partirmos dos poucos dados citados no início deste texto, este rápido levantamento pretende nos convidar para uma reflexão a respeito do talento desse músico tão especial. 

Que sobre aumentada a curiosidade em relação à música de Cole Porter!