terça-feira, 26 de janeiro de 2016

GOTAS NA JANELA


A chuva diminuíra. As gotas iam descendo devagar. Outras, mais velozes, em ritmo diferente. Ora fazendo caminhos compridos e retos, ora, tortos. Algumas vezes rápidos ao longo do comprimento. Havia aquelas que se juntavam a outras na caída.
Assim ia ela, agora, com um torpor no corpo e na mente, a observar o vidro da janela distraída. Seguia os riscos delicados, em meio ao embaçamento que se criava pelo calor dentro do ônibus. Já passara o momento de mais desespero. Havia se preocupado muito. A chuva ia diminuindo e a água da inundação iria descer. Três horas fazia que estavam parados. O ônibus não podia seguir por causa de alagamento no vale do Anhangabaú. Notícia dada por alguém, que passara e que, sem medo de enxurrada, zombava dos céus que tinham despencado em muita água. Dentro, muita gente sentada e em pé; todos no mesmo calor. Fora, a chuva já caíra sem dó.


Moça nova, quase menina, balconista de loja, com mais do que um balcão pela frente. Tinha também algumas especiais ilusões que uma vaidade indicava: unhas feitas, maquiagem leve no rosto, esfumaçada já, cabelo preso em rabo na nuca com graça, brinco e anel no dedo. A roupa que se quis bonita tentava esconder a vida que levava em bairro simples. Ia cansada, mas não muito. A juventude só mede o cansaço pelo físico. Ainda tinha toda uma vida para sonhar em sua imaginação.
Estamos todos numa situação nada engraçada, pensava. Ilhados e aprisionados no meio da cidade. Parece que há carros inundados. Inutilizados, sem dúvida. Estava enjoada do vidro da janela, que não se podia abrir. Tímida, evitava os olhos dos outros passageiros. Com semblantes de quem se enfastia do trabalho, canseira de sobrevivência. Trabalhar, tanta correria. O povo brasileiro é assim mesmo, acomodado. Ou sabe viver. Algumas pessoas pareciam conformadas.  Outras pessoas ainda tentavam conversar ou falar de alguma questão para a qual não se tinha resposta. Passando o tempo. Até começaram a trocar palavras, num diálogo marcado pela cumplicidade. Numa eventualidade, que se pode até chamar de tragicômica. Ruas e esquinas demais adivinhadas pelas pupilas, linguagem e gestos.
Então, virou-se mais atentamente em volta para perceber as pessoas. Com semblantes de quem se enfastia da vida, canseira de sobrevivência. Pó, rugas, esgarçado tecido na bermuda, na saia, na blusa. Chinelo de dedo. Desbotado nos olhos, nos cabelos e nos rostos. O mesmo cenário de sempre. Vida dura.
Foi então, que viu uma face. Quase num susto. Olhos acesos olhando para ela. Um moço moreno de meio sorriso nos lábios. E agora? Que fazer? Em sua direção, sem dúvida. Era comigo. De soslaio, percebeu de novo a pupila como um raio a lhe atingir. Como não vira antes? E se visse, que iria fazer? Claro que nada. Nem dava para fugir. E agora?
Baixou os olhos, envergonhada. Passou a mão por alguns fios de cabelos longos e crespos que ainda lhe caíam na face. Sabia que não era feia. Tinha um fã na loja. O gerente, casado, safado, queria sair com ela. Ele gostava de seus olhos castanhos.
Voltou-se para os caminhos da água delicada a cair pelo vidro. Não dava para, de novo, ficar presa naquele pedaço de janela. Uma aflição lhe invadia o peito. Começou a transpirar mais. A respiração ficou mais apressada.  Até que ele era bonito. Será que ele gosta de cinema? Seria tão bom ir com alguém ao cinema. Ver um filme romântico, daqueles que tem paisagem e beijo.  Olhou de novo. E lá estava ele, sem disfarçar. Tantas pessoas em volta e ele a me fixar desse jeito.
O ônibus começou a andar, enfim. Devagar, mas andou. Não muitos quarteirões depois, uma parada.  Muita gente desceu. Ainda chovia. Sufocava. Mas fora havia ar. Todos se movimentaram, com barulho, ao perceber a oportunidade de sair dali.
Estava paralisada. Ele também se encaminhou para a porta. E para sua surpresa, ao passar onde estava afundada, estendeu-lhe um pedaço de papel, dizendo: “Prazer em te conhecer. Me liga”.
Tentou sorrir. Sem conseguir falar nada, ela percebeu, que, além de paralisada, também estava muda. Olhou para os caminhos na janela. Gotas de água de chuva. Pequenas e cúmplices. Nem acreditava. Não, não acreditava que era verdade, apesar do pedaço de papel na mão.
A partir das ilusões de sua meninice, sorriu. E sentiu assim misturada uma esperança que se acendera.
Olhou a janela e, em meio às gotas que ainda se equilibravam pelo vidro, desenhou um coraçãozinho líquido, pequeno: Quem sabe?

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

DAVID BOWIE: EXCÊNTRICO OU GENIAL?

“Oh I’ll be free
Just like that bluebird
Oh I’ll be free
Ain’t that just like me”
LAZARUS
David Bowie era excêntrico ou genial? A notícia de sua morte nos deixou surpresos. Revisitemos seu talento. Em sua carreira houve muito glitter ,  mas não somente isso. Além da infindável experimentação que a caracteriza, encontramos nela uma pessoa especial. É a junção entre sua carreira profissional e o que ele viveu que nos interessa. A possível relação entre aspectos da biografia e obra que ele desenvolveu. Descubra a pessoa que ele foi.

POP STAR DE VOCAÇÃO MÚLTIPLA
Nascido no dia oito de janeiro de 1947, em Londres, de família simples, sem muitos privilégios sociais ou econômicos, aos oito anos foi enviado para a casa de um tio no campo. Aos onze escolheu fazer arte (pintura e música) em escola para adolescentes de acordo com o sistema escolar inglês.
Em 1959, aos doze anos, já fazia uma apresentação junto a um colega com um baixo de fabricação caseira e uma guitarra. Não demorou para que a primeira banda aparecesse. Depois dela vieram muitas outras. Com catorze anos deixou a escola e iniciou uma vida de constantes mudanças.
Ele não foi simplesmente um músico. Foi um artista de múltiplos talentos. Desenvolveu uma discografia imensa; fez e participou de filmes e vídeos. Aprendeu mímica com Lindsay Kemp em 1967 de cuja companhia participou fazendo Pierrot in Turquoise. No teatro fez o papel principal de O Homem Elefante (1980), produção teatral da Broadway em que recebeu elogios por uma atuação expressiva.
Seu irmão mais velho que era esquizofrênico lhe emprestara livros e discos, tendo assim semeado ideias e uma curiosidade para que ele pudesse ir além. Daí em diante, contou com referências, leituras, informações privilegiadas de pessoas importantes das quais se cercou.
Teve inúmeras influências: desde Little Richard e Elvis Presley, Iggy Pop e Brian Eno até a Geração Beat (Ginsberg, Burroughs, Kerouac), Andy Warhol. Obras marcantes foram 1984 de George Orwell, 2001, Uma odisseia no espaço de Stanley Kubrick.
Mas, o sucesso não veio facilmente. Sua carreira contou com altos e baixos.  Alternava a música com o cinema ou o teatro, mesclando assim seus talentos. Em entrevistas apresenta-se tímido, mas tem imensa capacidade de atuação no palco. Também na música expressa essa qualidade teatral em estilos e personagens criadas em vários momentos da carreira musical.
O mais ousado deles foi a personagem Ziggy Stardust, que era um extraterreno roqueiro e um pop star perfeito, com maquiagens pesadas, botas de plataforma. Mas não foi a única. Em seguida, vieram Allan Sane e The Thin White Duke. E a cada uma delas, ele se transformava. Cabelos vermelhos, loiros, encaracolados a la Bob Dilan, sobrancelhas raspadas, roupas de Yamamoto e detalhes de Armani. Tudo era pouco para sua experimentação. Era obstinado ao abraçar seus projetos e com facilidade os abandonava por novos desafios.
Esse conjunto de características em que se encontram experimentação e busca permitiu que sua obra tivesse qualidade intelectual e que ele deixasse um legado de sofisticação para o rock.

MOMENTOS ESPECIAIS DE SUA CARREIRA
Esse artista, que trouxe para a música ideias da arte, da literatura, do cinema e do teatro, influenciou gerações pela qualidade de suas realizações e pela coragem de romper padrões.
Perguntado a respeito de carreira profissional, Bowie disse em entrevista: “Não se pode planejar uma carreira. Fazer o que se gosta é o que pode gerar carreira”. Foi o que ele fez. E durante mais de cinquenta anos, a obra realizada demonstrou amadurecimento e reflexão. Especialmente no trabalho desenvolvido em 2013, Bowie demonstrou uma reflexão dirigida ao que ele produzira anteriormente.
Em The Next Day (2013) houve a repetição da capa de um dos três produzidos em Berlim. Não foi por acaso a adaptação da capa de Heroes de 1977. Lá Bowie viveu entre 1976 e 1979 usufruindo andar pelas ruas no anonimato, um respiro de alívio, e a cura das drogas, em que ele estava se perdendo. 
A capa do trabalho de 2013 apresenta um quadrado branco com a inscrição The Next Day que cobre grande parte da capa do disco de 1977. Além disso, há um risco na palavra Heroes, título do álbum de 1977. Estabelece-se explicitamente uma relação entre essas fases. O vídeo de 2013(1) remete a imagens de Berlim. O passado de 1977 ainda tem presença no ano de 2013. Podemos pensar que haja uma negação do antigo e uma esperança pelo que vem no novo dia. E também que a ingenuidade de ser herói ao menos por um dia (2) já não tenha muito sentido em 2013. A imagem de Bowie nesse vídeo é contemporânea e ele está despojado de roupas ou maquiagem especiais. Sem as performances que o acompanharam nas primeiras fases de sua carreira. Mas, essa é apenas uma hipótese para essa retomada do disco de 1977 e adaptação ou correção do título e da imagem de capa.
Entre essas fases, no ano 2003, há outro trabalho denominado Reality. A capa desse disco traz um homem de terno preto e olhos arregalados, com órbitas escuras. Sobre esse álbum, Bowie diz em entrevista que a realidade se tornou fragmentada para muitas pessoas nos últimos vinte anos e que não há nada mais em que se apoiar. Nenhum conhecimento, apenas uma inundação de fatos em nosso cotidiano. O conhecimento foi deixado para trás e temos a impressão de estarmos à deriva (3). Não há glitter ou colorido nessas considerações, porque ele se depara com uma perspectiva real e sem ilusões.
Esses três passos, a passagem por Berlim, essa ponderação a respeito da realidade e a retomada do trabalho realizado em Berlim no ano de 2013 apresentam uma ligação entre sua vida e obra. A carreira que ele desenvolveu expressa mais do que simplesmente obras. Carreiras são, na verdade, a manifestação da presença do autor e de sua vida. Elas compõem uma narrativa em que se manifesta uma biografia.  Essa reflexão que Bowie parece fazer de sua vida dá consistência e sentido a sua obra.
A suspensão de sua obra pela morte repentinamente notificada ao público surpreendeu a todos. Mas ele deixou o álbum Blackstar e o clip Lazarus como trabalhos finais. E nestes últimos, o artista apresenta a mesma coerência entre vida e obra.
Sua última personagem ganha nome bíblico, Lazarus. No clip, ele vem com as bandas de um leproso que mal esconde o rosto. E ele é cego para a luz. Mas, o clip traz também a outra face de sua personagem que tem na mão um livro com uma estrela negra. O cenário é azul e seu olhar distante parece aspirar algo, talvez uma visão ou promessa. Seria essa a encenação da ressurreição do Lázaro bíblico? A letra diz “ Oh, eu serei livre!”, e nisso há uma esperança de libertação. Seria essa a dramaturgia e superação de um último limite, o da existência material de David Bowie? Seu contato com a inexorável morte? A esperança de algo melhor depois?
David Bowie viveu todas as etapas de sua vida colocando-a intensamente em sua carreira performática. Toda sua arte persistiu intensamente na busca da expressão. Foi muitos. Foi o que ele pode ser.  Foi o homem de mil caras, o camaleão.
Foi excêntrico e genial, na vida e na morte.






(1)Álbum de 2013: Where are we now? http://www.youtube.com/watch?v=QWtsV50_-p4
(2) Letra original de Heroes: We can be Heroes / We can be Heroes / We can be Heroes / Just for one day / We can be Heroes / We're nothing, and nothing will help us / Maybe we're lying, then you better not stay / But we could be safer, just for one day
 (3)Texto original: “I feel that reality has become an abstract for so many people over the last 20 years. /…/ There's nothing to rely on any more. No knowledge, only interpretation of those facts that we seem to be inundated with on a daily basis. Knowledge seems to have been left behind and there's a sense that we are adrift at sea.” http://www.bowiewonderworld.com/press/00/031001sosreality.htm
PS: Visite o site official  :  http://www.davidbowie.com

sábado, 2 de janeiro de 2016

A FOTOGRAFIA AUTORAL DE MARCELO GRECO

Quais são as motivações originais que impelem a realização de uma obra? Sempre me pergunto como ela se constrói. Surpreendente efeito de um movimento na vida do artista. Se a fotografia é arte, o que é fotografia autoral? Sob essa perspectiva, observo o trabalho do fotógrafo Marcelo Greco. Acompanhe. Feliz Ano Novo!
 
 
FOTOGRAFIA, UMA VIAGEM INTERIOR  

Marcelo Greco, paulista nascido em 1966, vem de família de imigrantes que tinham alguma ligação com arte em várias gerações. Seu avô teve um primeiro momento profissional como músico de cinema mudo e depois de uma vida no comércio ele se aposentou e passou o resto da vida compondo música sinfônica. Não terá sido em vão essa ascendência. Marcelo, antes de ser fotógrafo profissional, passou pela área de processamento de dados e foi analista de software básico. A música e a pintura sempre estiveram perto dele. Tinha paixão explícita por imagens.

Com 26 anos, estabilizado profissional e financeiramente, percebeu que desejar o lazer de final de semana e de férias não era mais suficiente. Questionamento no mínimo inteligente. E ele viveu a dúvida: faltava algo.

Aos poucos, cresceu o desejo de ser fotógrafo profissional. Em 1995, ele começou a fotografar à noite em teatros. Entre os anos de 1996 e 1997, desenvolveu trabalhos como fotógrafo em eventos sociais, empresas e para jornais e revistas. Houve o momento de elaborar um plano adequado para sua saída da empresa em que trabalhava. Foi , então, ser feliz como fotógrafo full time.

Daí então aconteceram exposições e trabalhos individuais e coletivos, nacionais e internacionais (Portugal, Itália, Alemanha, Holanda), oficinas e cursos no MAM (Museu de Arte Moderna de SP e no MIS). Foi curador geral do Festival de Fotografia Paraty em Foco 2008. Fundou em 2009 a editora Schoeler Editions, para o mercado de arte, em que cria livros e portfolios de tiragem limitada.   
  
Quando perguntado a respeito dos turning points de sua carreira, ele diz que houve alguns. O primeiro deles foi a ida para Portugal. Quando voltou ao Brasil em 2004, depois de concluído o tempo lá, sentia que era um fotógrafo autoral. Em 2015, outro ponto importante teria sido a exposição no MIS em que se reaproximou da cidade de São Paulo.

Ele não queria ser um fotógrafo jornalístico. A fotografia autoral seria o destino de suas intenções. Em cada projeto, ele confessa os aspectos autobiográficos. Motivações internas. Isso é suficiente para definirmos a fotografia autoral?
 
 
EM DIREÇÃO AO TRABALHO AUTORAL

Eis alguns momentos da trajetória do fotógrafo em escolha aleatória. O primeiro é uma exposição na Pinacoteca que se chamava Íntima, luz íntima. Era uma série de imagens com figuras femininas em salas, cozinhas e pedaços de janelas que davam para caminhos rurais. Tratava-se de uma comunidade mineira sustentada por um eixo de matriarcas, porque os homens emigravam. As fotos coloridas não escondem a tristeza e a solidão daquelas mulheres.

O segundo é o ensaio Internal affair, em que o fotógrafo nos traz imagens de sua vida pessoal e íntima. Cortinas transparentes, uma chuva fina através de uma janela, a parte de cima do corpo nu de mulher, um vaso de flores, uma travessa de peras, um pedaço de mesa ou de uma escada. O gesto de enxugar-se em toalha ou receber o carinho do focinho de um cachorro são apenas sinais de uma intimidade explícita. Apenas sinais, pouco claros. O fotógrafo trabalha com as imagens de forma poética, a partir dos aspectos simbólicos que os personagens ou objetos fotografados realizam dentro dele mesmo,segundo o texto do ensaio no jornal em junho de 2014 (*).

O terceiro momento é uma exposição realizada no Museu da Imagem e do Som em 2015,"Sombras Secas", que nos conduz por uma cidade de sombras em que as verdades estão escondidas. 'Aqui é assim: ou você entende que a cidade tem alma ou ela te engolirá nos próximos trinta segundos', diz Marcelo Greco. Um prédio através de uma tela, uma ponte, alguém de óculos dentro de um ônibus, outra pessoa olhando um celular embaixo de um guarda-sol, um prédio-fantasma, a partir de muros algum pedaço de prédio, pessoas que parecem escapar, vidros de janelas, uma árvore flutuando sobre uma mancha de sombras, pichações. Por aí, estará a alma de uma cidade com que o fotógrafo se depara após um tempo de ausência.

Marcelo Greco confessa os temas de seus trabalhos que possuem relações com sua vida pessoal. Tal postura talvez nos ajude a entender a questão da fotografia autoral que deve juntar a marca da pessoalidade do autor com aspectos técnicos. A luz e o enquadramento, os desfoques, os detalhes e os grandes planos, tudo faz parte da técnica do autor. Um trabalho autoral talvez deva juntar aspectos técnicos de qualidade com uma postura do autor, com uma marca de pessoalidade.
Definir os aspectos que fazem um trabalho autoral em fotografia é questão complexa. E é justamente esse lado autoral que mais nos instiga na busca pelo sentido de uma obra.

No site Câmera Obscura, o editor Rodrigo Fernando Pereira afirma que o fotografia autoral pode descrever as fotografias que são fruto de um projeto pessoal ou ainda para referir-se à fotografia que é vista como arte, em oposição à fotografia documental ou utilitária. Será que podemos discordar e conceder também ao trabalho de cunho jornalístico o caráter autoral caso tenha a marca pessoal de quem o realizou? Essa discordância e ousadia talvez só seja possível a um leigo como eu.

Há muitos aspectos implicados nessa questão. Como a fotografia é um campo relativamente novo dentro das artes, tais questões teóricas ainda demandarão certo tempo para comporem um quadro estável de conceitos.

Mas, podemos perceber a autoria na produção artística de Marcelo Greco onde cabe sempre a noção de projetos. Cada obra sua (exposição e livro) apresenta uma entidade com vida própria. Com técnica e beleza.

Em meio a essas dúvidas conceituais, sobra a nós a possibilidade de fruição desse trabalho em que encontramos uma mistura de compromisso com uma ação vocacionada. Uma percepção sutil do mundo através de um olho que fotografa o exterior a partir do interior.  

O trabalho autoral é recurso que sustenta o que incomoda o artista. E o cutuca, enquanto ele tenta responder a motivações que vêm de algum lugar desconhecido por ele mesmo.

Marcelo, que brincou com o fotômetro do pai e com a câmera da mãe, era fascinado por luz. Hoje ele faz algo que já estava em semente em tempos antigos de sua história pessoal. Essa continuidade temporal expressa algo misterioso: uma biografia e as obras que a constituem. As obras são o fruto de uma busca por respostas, que de antemão são incompletas e imperfeitas. Incríveis (e infindas) tentativas.

Tal é a obra de Marcelo Greco. Vida longa a você, Marcelo.
 

(*)Ensaio de Paula Sacchetta. Jornal O Estado de S. Paulo, 29/06/2014. Caderno Aliás, D6 e 7.
 
PS1: Visite o link para conhecer mais da obra de Marcelo Greco. http://www.marcelogreco.com/
 
PS2 : Visite o link para ler artigos a respeito de fotografia: http://camaraobscura.fot.br/