O que me fascinou não foi a cidade de Mumbai ou a descrição de aspectos da cultura indiana, mas a visão de tudo isso pelos olhos de Antônia. A confissão de sua experiência. Única, realista. Sem medo de marcar sua decepção, pela falta de higiene ou pelos maus modos dos homens em relação a mulheres. Sim, estes talvez sejam somente detalhes, possivelmente irrelevantes no conjunto.
Tratava-se de um depoimento em programa da TV Cultura. E ela estava á vontade para falar do mês que passou em Mumbai com o objetivo de coletar informações e um assunto para romance de grande editora.

Aí está o melhor de tudo. Viajar com ela, que soube ponderar sobre tudo o que percebeu. Olhos maduros, apesar da pouca paciência. Ou por causa deles. Foi bom, andar por aquelas ruelas de novo, e pelas pequenas multidões de indianos por suas mãos. Por suas considerações justas, por seus olhos bem abertos para a realidade.
E, houve ainda uma imagem de namorados ao cair da tarde. Ela descreveu olhos femininos, possivelmente temerosos, levantando-se tímidos ao encontro dos olhos de seu namorados. Casais em movimentos delicados, exercitando a aproximação vagarosa no amor possível àquela sociedade.
De repente, tudo o que era feio desaparecera, como se Antônia enfim tivesse perdoado todo o resto de que não gostara.