Existe uma
relação delicada entre compositor/autor e o artista que executa/receptor. Quais
são os aspectos que merecem nossa atenção?
Uma
entrevista com Lang Lang jovem pianista chinês, com mais de quinze anos de
carreira de sucesso pelo mundo e que esteve recentemente no Brasil, nos conta
como acontece essa relação para ele.
O
jornalista João Luiz Sampaio pergunta: "À medida que amplia seu
repertório, você sente que estabelece novas conexões entre os compositores e
suas obras?"
Lang Lang
indica inicialmente uma relação física de que participa o instinto: "É
como uma enorme rede biológica. No começo você aprende Bach, Mozart, Beethoven.
Mas você não consegue realmente entender a conexão entre eles, é difícil
compreender, quando se é muito jovem, uma sonata de Beethoven." Segundo
ele, as peças do período romântico (Chopin, Liszt, Rachmaninoff) "são mais
fáceis, não em termos técnicos, mas espiritualmente, digamos. O instinto aqui,
fala mais alto".
Depois
dessa fase haveria, segundo ele uma necessidade de "conhecimento":
"Só que, com o tempo, o instinto não basta e você começa a sentir falta de
conhecimento, de aprender a música de outra forma, analisá-la, encontrar
sentido no que você está fazendo."
Entre
essas duas fases haveria uma passagem temporal, pois "Quando se é jovem
demais, não há direção."
E ele
termina: "Como intérprete, você precisa entender o que está tocando e por
que está tocando e por que está tocando desse ou daquele jeito. E aí você sente
a necessidade de voltar a Bach, Beethoven. Só que ao fazer esse retorno, você
já sabe melhor onde quer chegar, qual o seu foco. Quando se é jovem demais, não
há direção. E depois de entender melhor Mozart, você passa a ver Beethoven de
outra forma, e depois Brahms, Schubert, e assim por diante. Aí a conexão fica
clara."

Essa
mudança de foco no intérprete representa um salto de qualidade na leitura da
obra musical.
Podemos
ampliar a compreensão e imaginar que muitas de nossas experiências poderiam
passar por esse crivo.
Mas,
dependerá de nossa capacidade de observação e de avaliação de nossas atitudes.
Essa
qualidade poderia fazer parte de nossa leitura do mundo, que seria assim
enriquecida.
Muito
linda é essa personagem da arte, esse jovem pianista que nos empresta sua
aprendizagem.
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