Tejo |
Cada viagem tem um jeito, uma marca. Os rios deram o tom desta viagem. Foi sem planejamento e me vi diante de vários deles, andando por suas margens.
Percorri as margens do Douro no Porto, o Tâmisa em Londres e o Tejo em Lisboa.
O pequeno rio em Oxford? Era o Tâmisa antes de ser grande. Desci as ruas desde o centro histórico na direção do vale onde ele passa. Não muito longe, cheguei à ponte. Não quis atravessar e, então, procurei pelas margens. Encontrei um caminho chegado às casas que margeiam o rio e que por isso têm uma visão privilegiada dele. Passagens apertadas que funcionam para dar acesso à vizinhança que mora por lá. Casas grandes, antigas, que margeiam as águas de um rio apertado entre o casario da parte mais nova da cidade. Não devem ser bem aceitas pessoas estranhas à intimidade daqueles arbustos. Minha curiosidade era um abuso. Barcos pequenos passavam em suas águas, pouco largas. Ele iria crescer muito ao longo de seu caminho.
Tâmisa |
Em Londres, ele é imenso, caudaloso. É maior de idade. Andar pelas margens do Tâmisa no verão é uma festa. Barcos passeiam viajantes que, como eu, olham a cidade. E ouvem (ou não) as explicações dos guias cheias de piadas britânicas. Talvez seja difícil para o estrangeiro entender as nuances irônicas desse humor, mas quem se importa? O rio Tâmisa fala a linguagem de Londres e nós a entendemos.
Enquanto meus olhos acompanham as pontes, as edificações potentes das pedras e arquitetura londrinas, minha imaginação anda pelas histórias de reis e rainhas que duram muito tempo, em um império que, dizem, foi cruel como muitos outros. Shakespeare às margens dele, pensa seus personagens e cria ficções humanas que durariam muitos séculos.
Na época dos descobrimentos, Portugal era uma espécie de cabeça da Europa voltada para o mar. Era ali que os desejos dos portugueses se voltavam para os espaços abertos na busca de destinos desconhecidos.
Douro |
Por sua vez, o rio Douro, no Porto, é abraçado pelo Cais da Ribeira. Por montes e montanhas, ele vem de terras espanholas e construiu um microclima especial para os azeites e vinhos de seu lugar de origem, até os entrepostos de distribuição. Os tonéis são carregados por barcos de desenho elegante. Antigo e delicado. Por caminhos estreitados pela geografia. É um rio que teve que lutar para seguir forte. Parece que não houve mudança nesse transporte ao longo do tempo. Talvez também não tenha mudado o gosto de seus produtos. Deve ser por essa riqueza que a cidade apresenta hoje muitas obras de restauro em suas edificações. Resgate de uma história, guardadora de memória e cultura.
Todo rio é inspiração para uma cidade. Os homens os escolhem porque precisam dele. E ele generosamente se oferece para ser caminho e vida.
Foi a viagem das bordas dos rios.
Eles têm um começo, um meio e um fim. Suas águas engrossam desde a nascente e tomam da terra mais e mais. Até que suas margens se alargam. Guimarães Rosa diz que há uma terceira margem, complexidade e mistério. Desconfio que sim. Quem sabe há até mais margens do que essas três?
Na verdade, viajar não é somente explorar cidades, parques, estradas e montanhas. Explorar geograficamente os espaços é apenas parte de uma experiência maior.
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