Muitos de nós se lembram do astrólogo Valdenir Benedetti que nos deixou em 2009. Ele desempenhou vários papéis na comunidade astrológica do Brasil e em especial aqui em São Paulo. Ele fundou escolas, organizou eventos e deu luz a vários livros de Astrologia. O astrólogo Douglas Marnei nos traz alguns aspectos de seu trabalho e algumas de suas características pessoais. Trata-se de um relato pessoal delicado e bonito. Leia o texto a seguir e participe desse trabalho de resgate. São bem-vindas contribuições nessa tarefa de construção de memória.
OBS: Esse trabalho faz parte da pesquisa que se desenvolve a respeito da HISTÓRIA DA ASTROLOGIA EM SÃO PAULO. Sua colaboração é bem-vinda!
Nós bebemos na mesma fonte, tivemos aulas com o professor
Wanderley Vernili quando iniciei meus estudos de Astrologia no período de 1977
a 1979. O professor Wanderley dava aulas de graça para uma turma de mais de 100
alunos em um salão paroquial na Vila Nova Conceição. As aulas eram ditadas e os
alunos tinham que anotar rapidamente os ensinamentos, para aprimorar o Mercúrio
segundo o mestre.
Interrompi os estudos por cinco anos devido ao nascimento de
meu filho Icaro e retornei em 1984 com o colega Maurice Jacoel e depois com
outros professores. Soube que o Valdenir teve uma escola de Astrologia na Vila
Madalena junto com o Edmur Balle, meu amigo de infância da cidade de Pompéia no
interior de São Paulo. Ambos tinham sido alunos do professor Wanderley e
evoluíram para a condição de professores.
Em 1991 Valdenir e Cintia Turella di Stasi, sua parceira da
Cintila Eventos, trouxeram a astróloga Donna Cunningham para o Brasil. O evento
aconteceu nos dias 24 e 25 de agosto na Sala São Luiz, na Avenida Juscelino
Kubitschek. O livro “Plutão no seu mapa Astrológico” da simpática astróloga
americana havia sido lançado pela Editora Pensamento e os temas tratados no Seminário foram Plutão, evidentemente,
e terapia com florais.
Logo após comecei a ter aulas com o Valdenir na Escola
Planeta de Astrologia na Rua Pamplona, cujo primeiro logotipo foi elaborado
pela Artista Plástica e Astróloga Mônica Grohmann (vide ao lado).
Foram vários anos de cursos com uma turma assídua quando construímos uma grande
amizade.
Valdenir utilizava algumas técnicas de interpretação como a
que foi denominada de “provolone”, devido ao formato do gráfico, no qual diante
de uma determinada questão Q, procurávamos o Indicador Universal, o Indicador
Essencial e o Indicador Acidental. Por exemplo, em uma determinada questão de
valores trazida pelo consulente, procuramos primeiramente a Vênus do mapa, que
é o Regente Universal da Casa II. Depois vemos o regente da casa II do mapa em
questão, que é o Indicador Essencial e por fim, caso houvesse um ou mais
planetas na Casa II, estes seriam os Indicadores Acidentais.
Outra técnica que ele costumava aplicar era a do Oposto
Simbólico, por onde fluía a expressão inadequada dos signos. Define-se um outro
diagrama no Zodíaco onde cada signo tem seu Oposto Simbólico, sobre a tese de
que os do elemento Terra se opõe aos de Fogo e os do elemento Ar se opõem aos
de Água.
A Árvore dos Dispositores também era utilizada como acessório
para a interpretação dos temas. Era uma outra estrutura de relacionamento dos
planetas no mapa baseada na regência moderna dos planetas sobre os signos, onde
o regente tem a sua disposição os ocupantes de seu signo. O topo da estrutura
eram os planetas domiciliados que hierarquicamente dispunham dos demais e assim
sucessivamente. O interessante é que cada mapa tem uma árvore própria, como se
fosse uma impressão digital.
Valdenir desenvolveu também uma estrutura do mapa baseada nos
arquétipos junguianos e na obra de Carlos Castañeda , onde o Guerreiro, o Mago,
o Amante e o Rei ocupavam os pontos da cruz cardinal relativos aos signos de
Aries, Câncer, Libra e Capricórnio. Esta estrutura foi se ampliando em um
gráfico cada vez mais complexo e acabou sendo tema de uma palestra no 3º
Simpósio de Astrologia do Sinarj em 1999 sobre “A Arte Astrológica de Ser
Guerreiro”. Seguem aqui dois links para assistir esta palestra:
Além disto, ele recomendava a mudança de local para passar o
aniversário de modo que a Revolução Solar produzisse um ano auspicioso para o
cliente, evitando possíveis aspectos negativos com os luminares e o ângulos do
mapa.
Ele era um grande empreendedor em prol da Astrologia, tendo
organizado inúmeros congressos, como um que aconteceu na FAAP em 1993, ano de
publicação do seu primeiro livro, ocasião em que eu vi pela última vez o
professor Wanderley.
Na Escola Planeta aconteciam encontros dos alunos com troca
de informações destinadas às diversas turmas, e me lembro de um sábado quando
eu tive o prazer de proferir uma palestra logo após a do Roberto de Carvalho,
esposo da Rita Lee, um escorpionino de primeira linha.
No andar térreo da Escola Planeta existia o Espade - Escola
Paulista de Arte e Decoração, onde ele organizou dois encontros de Astrologia
de que tive a oportunidade de participar como palestrante. O primeiro foi no
Ano Novo Astrológico de 1997 denominado “1º Encontro da Astrologia em São
Paulo” (folder anexo) e o segundo em setembro de 1998 denominado “Astrologia do
Amanhã”.
Ele dava muita atenção aos sonhos e me lembro de um curso que
fiz com ele onde uma situação ficou marcada em minha memória: se você sonhar
que está atravessando um rio, a nado, de barco ou por uma ponte, é sinal que
sua vida terá uma mudança radical.
Outra paixão era a fotografia, sendo que possuía câmeras de
alta definição com as quais desenvolvia um trabalho profissional de excelente
qualidade e ao mesmo tempo dava vazão a sua veia artística, tendo inclusive
recebido prêmios pelas suas fotos.
Possuía uma relação muito intensa com a informática.
Utilizava sem restrições os programas de cálculo de mapas em computador e
participava de listas de astrologia, algumas sob o pseudônimo de Jonas Bee,
onde tinha discussões acaloradas com os outros participantes.
Na vida pessoal, Valdenir, este capricorniano de Sol e Lua
com Ascendente Escorpião tinha um senso de humor apurado. Costumava criar
neologismos ou interpretações etimológicas de determinadas palavras. A mais
famosa era a do místico, que teria sido derivada de “me estico”, ou seja,
quando nos tornamos místicos nossa mente se amplia.
Após as aulas, a turma tinha por hábito ir à Trattoria do
Sargento na Rua Pamplona com a intenção de conversar sobre Astrologia e tomar
cerveja. Era uma maneira de fixar o conhecimento adquirido e trocar outras
informações. Valdenir aparecia de vez em quando e a conversa ficava mais
animada.
Em 1998 Valdenir desfez-se de todos os seus pertences e
mudou-se para a Bahia. Ele me deu um autorretrato do pintor M.C. Escher, aquele
em que ele segura uma bola de cristal e sua imagem está refletida na bola.
Guardo com carinho este presente, mas depois disto nosso contato diminuiu,
restringindo-se a congressos de astrologia e outros eventos.
Na década seguinte ele organizou alguns congressos no Largo
do Arouche em conjunto com o astrólogo Maurício Bernis. Me lembro de um deles
onde o Ademar Eugênio de Melo, já com muita dificuldade para enxergar por causa
do diabetes, porém com uma memória impressionante, deu sua palestra sem ver os
slides, assessorado por sua esposa que os ia trocando.
No site Constelar temos a última palestra de Valdenir com o
título “Lua, criança interior, autorização para ser feliz” do dia 6 de
junho de 2009, no centro de convenções do Hotel Atlântico, em Copacabana, como
parte da versão carioca do Circuito Nacional de Astrologia, organizado pela CNA
- Central Nacional de Astrologia. Este vídeo foi recuperado por Alexey
Dodsworth, que o compartilha agora com toda a comunidade astrológica
brasileira. Aqui vai o link:http://www.constelar.com.br/constelar/139_janeiro10/valdenir-benedetti1.php
Em seu blog Astrologia Transpessoal, Valdenir se auto definia
assim:
“ Estudante e
apaixonado pela Astrologia há mais de três décadas. Descobrindo agora que o
tamanho do que não sei ainda é imenso, e o tamanho do que nem sei que não sei é
inimaginável. Procurando fazer com que a Astrologia não seja apenas um blá blá
blá mental e descritivo. Acreditando que a prática da Astrologia é mais do que
alimentar ilusões ou autoimagens. ”
Aliás, ele dizia que Transpessoal não quer dizer apenas Além
da Pessoa. Para a Astrologia, essa prática quer dizer mesmo é Através da
Pessoa. Para quem quiser consultar o material ali armazenado, o link é:
Não podemos deixar de mencionar o Blog da Astróloga Rose
Villanova, que disponibilizou inúmeros textos de suas correspondências com o
Valdenir neste endereço:
Eu, Ana Cristina Abbade e Valdenir
em um evento no Rio em 1998
|
Sua partida para outro plano colheu a todos de surpresa, pois
todos sentiam que ainda não era o momento. Sentíamos também que tínhamos
perdido um amigo, um irmão de fé, um batalhador entusiasmado e apaixonado pela
nossa amada Astrologia!
Este é um depoimento pessoal de minhas vivências com meu
professor Valdenir Benedetti. Caso algum colega queira manifestar-se, com
certeza vai nos enriquecer com suas informações.
Para finalizar vou transcrever a dedicatória que ele fez em
um de seus livros, que acho muito oportuna para o momento:
“Douglas, meu amigo, um
privilégio ter tido você a meu lado durante esta jornada que é minha vida e de
onde surgiu este livro. Obrigado. Sei que você vai curtir. 19/set/97”
É claro que curti, Valdenir!
Douglas Marnei
Janeiro de 2017
O legado de
Valdenir Benedetti
Além das aulas, palestras e cursos Valdenir nos deixou vários
livros e apostilas nos quais suas ideias continuam vivas e disponíveis para os
leitores. Apresentamos a relação deles em ordem cronológica:
- Autor do texto “Astrologia e Sintonia” no livro “Astrologia Hoje – Técnicas e Estilos” editado por Massao Ohno Editor em 1985.
- Autor da apostila “Técnicas de Interpretação Sintética de um Mapa Astral” elaborada pela ASAS – Astrólogos Associados de Curitiba em 1990.
- Organizador do livro “Interpretação do Horóscopo: Técnicas e Estilos” editado por Editora Hipocampo em 1993.
- Autor do livro “Textos Planetários” de uma editora não citada em 1997.
- Autor do livro “Manual de Astrologia Essencial – Textos Planetários” editado por Editora Ground em 1999.
- Autor do texto sobre o signo de Peixes no livro “Astrologia – Os Doze Portais Mágicos” editado por Editora Talento em 2001.
- Organizador e autor do texto “Os domínios e funções terrestres dos planetas no horoscopo” em “Segredos e Estilos – A Arte de Interpretação do Horóscopo” de 2008.
Tive contato com o Prof. Valdenir Benedetti uma única vez, em um congresso realizado em Águas de São Pedro(SP - se não me falha a memória, por volta de 1990, para tudo isso a memória falha, mas não a lembrança de simpatia e abertura com os novos participantes (fora do eixo Rio-São Paulo), muito acolhedor, nos deixou à vontade para participar em pé de igualdade com astrólogos já reconhecidos na época. Deixou-me excelente impressão como profissional e ser humano.
ResponderExcluirVirginea, que bonita lembrança! Obrigada por compartilhar!
ExcluirTive aulas de Cosmobiologia junto com Valdenir Benedetti, "Ni", na Chácara Pignatari em Santo André, durante 1978 e 1979. O Edmur era nosso professor e esporadicamente recebiamos a visita do Vernile que era o orientador do Edmur. O professor Gilberto dava aulas de astronomia e cálculos, que na época ainda eram feitos "no braço". O curso foi criado pelos psicólogos Nilo e Juan Alfredo Cesar Müller. A astróloga Maria Goreti que aparecia anos depois na Globo em um programa matinal com a Marília Gabriela... não lembro o nome era da nossa turma. Também já nos deixou.
ResponderExcluirQuem foi que escreveu este depoimento tão importante? Infelizmente as ferramentas do blog não facilitam a identificação de quem faz a postagem. Obrigada ! quem foi?
ExcluirQue linda a construção dessa memória, acho que poderia dizer algo também, dei aulas na Escola Planeta que era dele... Muitas outras pessoas que estão na ativa ou não têm muito a dizer sobre o querido Valdenir e tenho certeza que tal ocorrerá pela energia da "reunião" que ele tinha e tem, seu atributo de Vênus era muito forte, pensava em realizar algum evento e já começava a acontecer em torno dele... Saudades querido Valdenir!
ResponderExcluirMariland Lewtwiller, entre em contato. Aguardo seu relato! E participo, com certeza, desse evento. Obrigada pela presença. Abraço.
ExcluirAi que saudades do querido Val Bee!
ResponderExcluirLindo e emocionante relato de uma das histórias de Valdenir. Tive muita sorte em conviver com ele intensamente durante seus anos na Bahia. Através dele conheci Dr Sergio Mortari com quem muito aprendi também.
Grata por compartilhar esta memória tão especial
Maria Helena, obrigada por sua presença. O belo texto do Douglas Marnei foi o primeiro e estimulou a participação de muitas pessoas que como você trazem novos dados. Entre em contato para a pesquisa do papel do Val Bee ganhar esses dados baianos. O Dr Sérgio Mortari também é um item a ser pesquisado. Seu depoimento será bem-vindo! Agradeço seu contato para isso.
ExcluirTive o privilégio de assistir às aulas do Valdenir, aqui na Vila Madalena. Foi meu primeiro, inesquecível e inestimável contato com a Astrologia. Ele era muito carismático e charmoso. Me lembrava Richard Gere. Guardo com carinho minhas anotações das aulas. Lembro bem e utilizo os conceitos que ele passou sobre a interpretação em formato provolone, a árvore dos dispositores e os opostos simbólicos. Segui me formando em Psicologia e Filosofia, mas a Astrologia ainda é minha paixão maior o que se deve muito ao Valdenir Benedetti. Agradeço por compartilhar dessas lembranças.
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