Antes de mais nada, preciso confessar que nunca fui leitora de seus
textos, a não ser quando eu os recebia enviados a mim por email. Sempre gostei
desses pedaços de sua obra.
Mas Martha Medeiros escreveu bem mais do que eu imaginava: cerca de vinte
e três livros publicados e mais de um milhão de livros vendidos. E tem uma
coluna no jornal O Globo. Ou seja, é uma escritora de sucesso.
Mas, não é por esses dados incríveis em um país em que se lê tão pouco,
que me detenho nela. É pela pessoa que conheci na entrevista do programa Roda
Viva da TV Cultura (01/09).
Simpática, elegante e sempre delicada respondeu a muitas perguntas
pertinentes a sua obra e a assuntos gerais. Simples e bastante consciente dos
efeitos de suas palavras, não omitiu opiniões mais polêmicas. Por exemplo, ela
é a favor do aborto e faz ressalvas em relação ao sentimentalismo do brasileiro
que, segundo ela, faz que se perca o foco. Critica nossa passionalidade e se
defende dizendo que não precisa perder o senso crítico por ter laços afetivos
pelo Brasil. Confessa que fora daqui se sente menos estrangeira.
Além desses, outros assuntos apareceram no programa. Sua relação com as
questões da maternidade, a preferência por não se engajar ideologicamente,
observando as coisas por uma perspectiva maior. Ela pontuou a importância da
arte, da educação e da cultura para preencher o “vazio existencial” que ela
observa. Há o que ela denominou “contingências
da vida” que poderia ser interpretado como uma visão prática da realidade.

Acompanhe em seguida, em uma espécie de paráfrase, algumas de suas
ideias que mais chamaram minha atenção.
MATERNIDADE E SEPARAÇÕES
Ser mãe é fantástico, mas é mais uma aventura da vida. A mulher pode
colocar seu afeto em muitos locais. A questão da maternidade em geral leva em
conta apenas alguns aspectos e não o seu lado encrenca.
As questões da educação são importantes e é preciso parar de educar as
crianças para o eterno, para o sempre. As separações existem e são atos de
honestidade. Parece trágico porque parece ser fruto de um fracasso. O fim do
casamento não é um fracasso, mas uma contingência. A família continua a
existir.
a LITERATURA e o processo criativo
Escrevo para mim. É autoanálise,
é para narrar as angústias e sofrimentos, para encontrar respostas, para
desestressar.
A publicidade me deu o treino constante com objetividade e humor, foi
uma escola da síntese e da sedução. Ao deixar a publicidade, troquei de
produto. A sedução literária não é consciente, mas é uma herança da
publicidade. Combato a sacralidade da literatura.
Não me organizo para escrever. Tenho um espaço na sala e sou
interrompida por questões domésticas e da família. Mas, sou desorganizada
somente por fora, por dentro não. Vejo um filme, uma frase e daí o texto surge.
Escrevo, reescrevo. Deixo o texto dormir e no dia seguinte ele é acabado.
Não faço crônica, faço uma coluna de opinião. Crônica literária quem faz
é Rubem Braga que sabe escrever a respeito do vôo de uma borboleta.
Talvez o que encante os leitores talvez seja a simplicidade. Nos meus
textos não há uma persona. Domingos de Oliveira disse: Nada é mais revolucionário
do que a simplicidade.
ARTE E EDUCAÇÃO
O caso do menino Bernardo não traz a violência, mas a ignorância. Há um
vazio existencial que a arte pode preencher. Cultura é fundamental para
resolver a ignorância. Cultura ensina a pensar, abre uma visão maior da
vida.
Fui educada pelas músicas que ouvi, pelos filmes a que assisti e não somente
pelas palavras que me disseram: faça ou não faça isso ou aquilo.
Um texto triste de literatura não me deixa triste, me deixa feliz.
Extrai algo de bom de dentro de mim. A tristeza é mais consistente.
Confira entrevista na íntegra: https://www.youtube.com/watch?v=9TiYPItx408
Martha é ótima.
ResponderExcluirFico feliz de tê-la "apresentado" a você.
Beijoca