Era 1981. O Papa
João Paulo II sofria um atentado, Charles e Diana casavam-se como príncipes que
verdadeiramente eram, o Brasil entrava lentamente na era dos videocassetes e
computadores pessoais.
Observados hoje
em dia são fatos longínquos. Depois do Papa João Paulo II, veio o Bento XVI e
hoje temos o Francisco. O casal de príncipes se separou. A princesa morreu de
acidente de carro. Ele se casou novamente com a amante. E a era do computador
se instalou definitivamente de forma insuspeitada. A astrologia também mudou
visto ser parte de um caldeirão de cultura e de transformações de toda
espécie.

Foi com essa
autoridade que ela acabou chegando a mim depois que outro objetivo havia sido
concluído: uma tese acadêmica, com defesa, exame de qualificação e muito
estresse.
Depois de cumpridos os passos desse ritual,
ganhei liberdade para outras pesquisas e curiosidades, desta vez sem prazos.
Era mais uma trilha paralela ao cotidiano. Seria bom se ela pudesse ser
relaxante.
Recebi, então, o
convite do vizinho que iria iniciar um grupo de estudos. As aulas ocorreram às
quartas-feiras e nelas fui descortinando uma sequencia de símbolos e conceitos
abstratos que eram ao mesmo tempo vivos, muito vivos.
Tais símbolos e
conceitos astrológicos foram se instalando em meu cotidiano. Alimentavam e
faziam a minha delícia e encantamento. Meu interesse era restaurado a cada novo
livro. Depois apareceram mais cursos e também uma parafernália tecnológica com
computador, vídeo, impressora, disquete e programas, que invadiram e começaram
a habitar meu espaço.
Pouco a pouco fui entendendo o desenho do mapa natal, o maior foco de curiosidade. Cada exercício de leitura daqueles sinais era um mundo a ser desbravado, pois havia um centro que pulsava. Falava de experiências e guardava uma pessoa que lá estava escondida. Mas eu podia descobri-la até em seu mais íntimo recanto.
Havia se dado o
encontro entre uma linguagem potente de imagens e símbolos e uma vocação até
então desconhecida em mim. Ela foi despertando aos poucos, muito devagar. Não
poderia ser de outra maneira, pois eram muita emoção e beleza juntas.

Dessa
escancarada humanidade, sempre explodindo e rompendo os limites mais
restritivos da lógica, sobra um desejo: de encontrar em meio dela a expressão
mais clara e mais limpa da saúde, da cor e da harmonia.
Foi se provando
insubstituível a experiência de ver pessoas se alternando perante mim, num
desfile multicolorido de vida, com suas buscas, insatisfações e desafios.
Tudo isso por
meio de figuras e linhas que constroem desenhos e conversam comigo. Me contam
histórias.
E vivencio o
momento de poder recolher, a partir do material ali generosamente vertido, uma
resposta, uma solução ou uma alternativa que alivie a dor da experiência de
viver, que amenize a solidão humana essencial.
Tudo isso
ocorreu bem aos poucos, talvez para não me machucar, para não me assombrar. Eu
não tinha noção da responsabilidade que estava assumindo perante as pessoas que
se voltavam para a astrologia naquele final de século como panaceia para muitos
males (ai de mim, astróloga). As respostas nem sempre seriam suficientes em
relação ao que as pessoas desejavam.
De forma
privada, usufruo desse espaço, que é também garantia de aprendizagem. Esse exercício
intenso e contínuo tem me proporcionado uma particular perspectiva da vida. Ela
se abre como uma janela de onde tenho uma paisagem cheia de pessoas e de suas
experiências. Uma janela do meu quarto que dá para o mundo.
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