sexta-feira, 21 de outubro de 2016

O INFINITO E A MATEMÁTICA


Quando o infinito é o limite? Parece brincadeira, jogo de palavras, não é mesmo?  Mas um filme que conta a história do matemático indiano Ramanujan nos abre a possibilidade de que não haja limites para a natureza humana. Biografias têm sempre um certo charme, mesmo na hipótese de que haja aspectos fantasiados da narrativa.

O HOMEM E O INFINITO



O HOMEM, ESSE INFINITO é o nome do capítulo do livro O Despertar dos Mágicos, de Pauwels e Bergier, de muito sucesso nas décadas de 70 e 80. Nele, está incluída a história do matemático indiano Srinivasa Aiyangar  Ramanujan (Erode,1887 - Kumbakonam, 1920). A titulação é sugestiva: há infinitos possíveis na natureza humana e, por certo, na vida de Ramanujan essa presença é mais do que uma hipótese.

Nesse livro ele é apresentado por sua excepcional inteligência, identificada já na escola infantil, aos cinco anos de idade. Mas isso não facilitou seu caminho. Pelo contrário. Conseguiu desenvolver seus estudos mais por sua capacidade extraordinária do que por frequentar salas de aula o que ocorreu esporadicamente. Quando se casou, teve que buscar trabalho chegando a ser contador em Madras.

Mas seu espírito inquieto fez que ele entrasse em contato com o matemático inglês G. H. Hardy em Cambridge a quem envia 120 teoremas de geometria que acabara de demonstrar. Essa correspondência impressiona o professor inglês que o convida a ir a Cambridge.

Essa é também a história do filme que se passa antes da Primeira Guerra Mundial, dirigido por Matt Brown e estrelado por Dev Patel (Ramanujan) e Jeromy Irons (Hardy).  As cenas vão construindo as dificuldades por que passa o matemático indiano, proveniente de uma pequena cidade da índia, em contato com as diferenças de cultura e alimentação. A rejeição que sofreu por diferenças étnicas, situações de bullying. Foram cinco anos de esforço a fim de ver seu trabalho reconhecido. Isso aconteceu, mas lhe custou a saúde. Voltando a sua casa, falece um ano depois.

Todos os detalhes da narrativa nos emocionam. Seus esforços para conseguir cumprir as exigências do seu professor, suas conquistas e perdas. O contato difícil e acadêmico entre ele e Hardy ganha importância. Aos poucos um vai transformando o outro. Se Ramanujan consegue dar as provas que o mestre desejava para ratificar seu aluno perante a comunidade acadêmica, Hardy muda sua maneira de conceber a espiritualidade. Perceber que seu aluno era casado foi uma surpresa. Nesse momento ele percebeu sua distração em relação ao lado humano de Ramanujan. Quanto mais ele teria desconhecido de sua vida? Como ele tinha vivido um relacionamento que seria de amizade? Esse questionamento vem tarde quando sabe da doença avançada que acometera seu discípulo.

O contato entre os dois passa por momentos de embate. Mas acabam construindo um respeito mútuo chegando ao contato carinhoso. A humildade e educação do aluno ganham lugar perante a rigidez e ceticismo do professor.

A persistência e capacidade de Ramanujam tocam Hardy que se abre a uma nova noção de fé e possivelmente de Deus.

INFINITOS

Quanto de fantasia existe no filme? Quanto de invenção para ganhar o público? Ainda que seja um filme correto sem grandes ousadias, temos poesia nos diálogos e beleza ao nos serem apresentados os aspectos da cultura indiana. Cenas intensas como aquela em que Ramanujan se depara com a estátua de Newton. O peso da pedra faz-se símbolo e representação. Em busca de força? De motivação?

Mas, mais importante do que tudo isso talvez seja a busca da personagem central, em uma particular perspectiva da vida. Uma especial biografia.

Uma vocação é alimentada desde sempre e a cada situação. Mantida na persistência de um impulso interno. Abrindo caminho para alcançar o objetivo da expressão. Dando espaço a algo inevitável. Simplesmente ele sabia os números, os padrões de que é feita a natureza. Os resultados das equações chegam-lhe. Ele tem de agir nelas e através delas. Para ele, são a expressão do pensamento de Deus.

Essa percepção nos conduz a limites impensáveis mas possíveis da natureza humana. Raros e por isso mesmo inspiradores. Desse modo, desenhar nas pedras, no papel , na lousa é-lhe fundamental. Porque sim. Rastros de sua genialidade, da divindade que o habita.

Observamos a grandeza de um ser marcado por algo impossível de ser explicado. Um mistério inalcançável pelo exercício da mente. Ele é um explorador do infinito. Do mundo dos números que abrem o infinito à inteligência humana.

O infinito pode ser visto? Há pessoas que transitam por pequenos detalhes, há outras por universos de coisas grandes. Portas para infinitos. Para Ramanujam, os números, as equações são tais portais, uma linguagem que ele encontra dentro de si mesmo. Incomensurável.

Nenhum comentário:

Postar um comentário