terça-feira, 7 de abril de 2020

DE JANELAS, GATO E MÚSICA PARA A VIZINHANÇA

     O canto que me cabe é limitado a janelas para um horizonte de outros prédios. A perspectiva espacial possível em um tempo de isolamento e quarentena.
Momento de lazer


    Não reclamo. Possibilidade de novas descobertas. Estou confinada a três janelas que dão para alguns prédios do miolo de um quarteirão. Bisbilhotando, vejo personagens, pedaços de tapete e cama e cadeiras. E tenho o céu, muitas vezes azul e nuvens. E surpresas como a do gato e a da música.
Há um gato no prédio em frente. Um gato pequeno, que fica menor ainda em uma janela, dentre as inúmeras janelas de uma parede enorme do edifício. 

      Foi sorte minha tê-lo visto. Ao abrir uma veneziana para mais claridade, vi esse pequeno felino elegantemente sentado bem na beirada. Havia uma proteção para criança e ele, com a postura de animal reflexivo, olhava em volta. Cena de tranquilidade e de lentidão felina. Perceberia ele algo diferente na paisagem?

      Observei encantada. Um sinal de vida no meio de tantos tijolos, azulejos, parapeito- construção. Presença singela. Por ele, repeti várias vezes a ida à minha janela.

      E, a segunda surpresa. Todos os dias, às seis da tarde, a partir de uma dessas janelas da redondeza, alguém distribui em alto som a Ave Maria de Gounod. Essa oração em forma de música, ao final, recebe palmas e assobios de pessoas que, como eu, estão se acostumando com esse momento especial. Generosa doação.

     Espero as seis horas da tarde para o momento de oração. Espero ver de novo o pequeno gato. Incluídos na agenda dos dias, são encontros prometidos. Delicadezas de tempos que pouco a pouco nos dirão a que vieram.

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