segunda-feira, 23 de março de 2015

ITALO CALVINO E A LEITURA

A leitura parece atividade simples e é, em certos aspectos. Tem função utilitária e de lazer. Informa e dá prazer.

Mas , na verdade é muito mais do que isso. Implica em um processo de comunicação com emissor e receptor, cujo relacionamento passa por vieses nem sempre percebidos por nós.

Um pouco da complexidade da leitura aparece neste trecho do Ítalo Calvino, em Cidades Invisíveis:

“Kublai pergunta para Marco:

- Quando você retornar ao Poente, repetirá para a sua gente as mesmas histórias que conta para mim?

- Eu falo, falo – diz Marco-, mas quem me ouve retém somente as palavras que deseja.

Uma é a descrição do mundo à qual você empresta a sua bondosa atenção, outra é a que correrá os campanários de descarregadores e gondoleiros ás margens do canal diante da minha casa no dia do meu retorno, outra ainda a que poderia ditar em idade avançada se fosse aprisionado por piratas genoveses e colocado aos ferros na mesma cela de um escriba de romances de aventura.

Quem comanda a narração não é a voz: é o ouvido.” 

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