O FILME JUVENTUDE

As duas personagens principais do filme Juventude de Paolo Sorrentino (2015) têm cerca de oitenta anos. E o filme, na verdade, nos fala de Juventude. Como ele consegue tal coisa, se é que consegue? Leia e assista ao filme. 

a Juventude e a velhice

Quando o filme terminou, eu estava meio que paralisada. Atolada em emoções. Quase sem poder respirar. As últimas cenas do filme são belíssimas e mudam muita coisa na narrativa que vinha se desenvolvendo ao longo de duas horas. Eu tinha um turbilhão de ideias na cabeça. Foi bom tomar um café com papo na saída do cinema.

Paolo Sorrentino é o diretor do filme A Grande Beleza. Nem todos gostaram desse filme. Este novo filme do diretor tem algumas coisas em comum com aquele. As grandes cenas, imagens oníricas, diálogos entrecortados e uma narrativa que requer uma atenção diferenciada do expectador. Além das grandes paisagens e cenas estáticas de valor plástico, ele se utiliza de sonoplastia inesquecível e metáforas em meio a diálogos abertos.

São estes alguns dos elementos da história: a amizade entre dois homens nos seus oitenta anos (Michael Caine e Harvey Keitel), a frustração pelo final do casamento da filha de um deles (Rachel Weisz) e um jovem artista que busca por respostas (Paul Dano). Hospedados em um hotel nos Alpes suíços, todos passam por transformações. Bom, isso é o que se espera de uma boa história.

O maestro aposentado se nega a fazer uma apresentação para a Rainha da Inglaterra por razões pessoais. Seu amigo é diretor e prepara uma obra que seria seu testamento artístico. A filha do maestro vê o final de seu casamento, amargando então uma tristeza sem fim. A história de cada um aparece de forma fragmentada, mas elas acabam se misturando. Nesse limitado contexto, ainda temos a figura de Maradona e uma aparição do talento de Jane Fonda como uma atriz de renome, ambos em papéis com traços de caricatura.

As surpresas e as respostas

O maestro acaba realizando o concerto com música de sua autoria. O amigo se vai, em atitude desesperada, após o naufrágio de seu projeto. A jovem abandonada recoloca sua beleza no jogo dos relacionamentos. O jovem ator distingue entre suas dúvidas o que realmente vale a pena.

Inesperadas, as surpresas são alimento para a imaginação. Perturbam certa ordem natural. Nos perdemos em um cenário apenas aparentemente limitado.

Fica muito espaço para completarmos as histórias. Enquanto recebemos material estético, somos convidados a colaborar na construção dos sentidos da história. Exercício de reflexão.

Como se mantém uma amizade? Ou um casamento? E se nossos projetos não dão certo, o que devemos fazer? Como lidar com o corpo que envelhece? O que é a juventude?

Fiquei esperando um discurso a respeito da velhice e da morte. Saí com respostas a respeito da juventude. A força de renovação seria a síntese do que é a juventude? A força do erotismo e o corpo? O que mais poderia ser?

Ainda sobram outras questões. Por que e como podem as crianças ter as respostas? O mestre oriental levita enfim, por quê? Nada é menor. Todo detalhe tem sua função. Como ocorre sempre em obras de arte.

Já se disse que o cinema de Sorrentino tem algo a ver com Fellini. Concordo. Um toque de caricatura e exagero em seus filmes, às vezes, me soa como felliniano. Semelhanças e diferenças entre eles merecem mais tempo de todos nós.

Assim é o filme Juventude de Paolo Sorrentino que ganhou polêmica no Festival de Cannes (2015). Muitos a favor, muitos contra.

Ou você se emociona ou vai sair do cinema sonolento. Como deve ter acontecido com o crítico do Estadão que não deu nenhuma estrelinha para o filme.

Não se trata somente de um filme de arte. É um filme para os que têm sensibilidade.

Não perca!