quarta-feira, 13 de julho de 2016

ROSAS À LUZ DA LUA

Cliquei muitas vezes. Como ficaram essas fotos? Aconteceu um efeito diferente. Em geral, prefiro mais contraste entre luz e claridade. Mas, nessas fotos de rosas há sombras, muitas sombras. Tudo meio escuro.

Gosto desse sombreado. Olho, olho, não canso. Esse exercício de vaidade explícita não me deixa culpada. 

Em um pequeno vaso, elas não são muitas. Talvez umas cinco ou seis em tom de laranja, um quase rosa, alaranjado. Uma cor indefinível e o resto, à volta delas na penumbra, com um pedaço de espaldar de uma cadeira ao fundo. O vaso sobre uma mesa de que não se vê muito.



Mas havia sim, uma luz sobre elas, delicada, noturna. É a primeira foto que me sugere a noite. Todo o resto só pode ser adivinhado. E eu me deixo ir dentro nesse movimento, quase como se fosse dentro de um enigma. E como se eu não soubesse onde foi feita a foto.

A luz cai docemente sobre o vaso na mesa, com tampo de vidro, por uma janela grande - daquelas antigas de muitos quadrados com vidros trabalhados em bisotê. Sem pedir, ela invade tudo, passando pela janela, cobrindo a mesa, e se dispersando pelas cadeiras. Cai no tapete escuro com tons de vermelho. Causa reflexos na cristaleira, entre os copos, jarras e outros objetos.

No aparador colado à parede perto da mesa há um pequeno vaso e prato em estilo chinês e um retrato de mulher. Um sorriso, um colar de pérolas junto ao pescoço e um cabelo em ondas. Ou é uma blusa com gola arredondada e broche de pequenos brilhantes? Minha imaginação titubeia. Foi ela que arranjou as flores no vaso?

As flores da foto são homenagem ou comemoração. Um cartão aberto na ponta da mesa, ao lado dos papéis meio amassados junto a uma fita de seda. Talvez amor, aniversário, uma situação particular.

Caminho até a janela para olhar de novo. O poste, distante. O corredor, comprido. Alguém se aproxima pela calçada, de andar manso. Sem pressa, se afasta. E mais não posso ver de onde estou, apesar da claridade e transparência do vidro, não tenho visão suficiente para ir mais longe. Meu coração chegou a bater forte. Olho para as flores no meio do escuro e em cima da mesa, aliviada.


Procuro a parede da sala ao fundo. Os pés da mesa? Onde estão as cadeiras? Têm o espaldar alto? E ao olhar assim para dentro desse escuro, dentro da fotografia diviso o que não se vê e só pode ser imaginado.

Então, completamente solta, a imaginação faz seu giro, adivinhando o cenário de uma composição não preparada. Descrevendo, invento o que segue num exercício de liberdade.

E essa luz se mistura a outra que vem de um poste na calçada que se vê pela janela por cima do muro que ladeia a casa. Há ainda um pequeno corredor longo, na lateral. É uma casa de cidade de interior ou de um bairro antigo de São Paulo dos anos cinquenta?

E antes que os pensamentos me levem de volta à minha realidade como se a luz se acendesse na sala, eu percorro os espaços de novo longamente, sem esquecer os panos da cortina da janela grande do fundo, ou os sapatos largados perto de um sofá em que um lenço colorido se esparrama.

Sustento ainda a fantasia. E olho de novo as rosas.

Elas me parecem ainda mais lindas 

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