terça-feira, 25 de novembro de 2014

QUANDO A GENÉTICA NÃO FAVORECE

O pai era um senhor alto, grandalhão, bem vestido, de pasta, óculos e terno impecável. Possivelmente do time dos executivos.

Ao preparar a leitura de seu mapa, detectei como elemento predominante o fogo que promete disposição e atividade fortes, vontade dinâmica e masculina. Pude detectar tais características em seu comportamento. Ele seria facilmente identificado com uma mistura de vontade e idealismo, importantes dados que movem o mundo. A leitura de seu mapa foi interessante e ele me ouviu com olhos atentos de quem estava desejando saber a respeito de seu mapa natal. Não houve surpresa: era da equipe dos executivos bem sucedidos.   

Depois, era a vez do mapa natal do filho que indicava um contexto diferente. O jovem mostrava uma disposição delicada e talentosa para as artes, com predominância do elemento água.

Por Batman, por todos os deuses do Olimpo e até pelo velho Conan!, a situação era difícil, pois o adolescente estava sendo encaminhado para a escola militar.

Sua natureza quase feminina, talvez reagisse mal a essa circunstância autoritária e disciplinadora. Mas, por outro lado, a fase astrológica que ele passava indicava uma época de aprendizagem e de limitações. Poderia ser então benéfica. Seria? Estariam os adultos a sua volta atentos para os paradoxos dessa situação e preparados para dar suporte ao rapaz no novo contexto?

Como astróloga eu não poderia levar em conta meus desejos pessoais, certamente. Não cabia a mim, torcer a favor do menino ou desejar que o pai tivesse uma atitude educativa diferente. Neste momento era impossível indicar uma educação de cunho mais humanista. Tudo já estava planejado e era um sonho do pai.

Que a humildade esteja sempre presente ao lado do astrólogo profissional especialmente quando ele está em frente ao cliente! Quem sabe o que a vida promete para as pessoas? Que mistérios escondem a presença desse filho na vida de seu pai? Quem é a astróloga para dizer algo a respeito dessa questão tão familiar e misteriosa?  
Lá estava eu com a questão inevitável: dizer para o pai a verdadeira natureza do rebento. Normalmente os pais, bem no fundo de seu coração, desejam ouvir que seu herdeiro, também o é de suas qualidades pessoais.

Procurei observar aquela pessoa à minha frente, enquanto eu ia desfiando as ideias a respeito do mapa do filho. Haveria decepção? Frustração? Rebeldia perante uma brincadeira da genética?

Mas, quem sabe se essa não seria a natureza da mãe? Ela era já falecida. Não obtive outras informações a seu respeito. Mesmo procurando com jeitinho questionar a esse respeito, esse detalhe não pareceu importante ao pai.

Ele estava na minha frente e eu lhe passei a informação que ele tinha vindo buscar. Não vislumbrei reação que pudesse me dizer seus sentimentos.

Não houve abertura para outras abordagens da questão que me preocupava. Eu tinha uma notícia a dar. Como síntese, o meu discurso disse: seu filho é um artista. Que ele faça bem a escola militar com sua ajuda e presença, parceiras importantes no tempo e espaço dessa experiência.

Mas, meu coração desejava de mansinho: deixe-o ir por esse caminho, se um dia o desejar. Ainda que seja após a escola militar. Que ele cumpra a tarefa da família e que ele possa viver todos os lados de sua natureza.

Será que isso aconteceu?
            
    

    


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