Em uma sala, entre quatro paredes, às vezes a vida é maior do que lá fora. Nesse local podem ser criados mundos, mediados por uma intimidade impensável no dia-a-dia. Uma situação de afetação mútua e encantatória. Isso normalmente acontece em uma leitura de mapa astrológico. É uma geografia que acontece a partir de um desenho em uma folha de papel, do lado de dentro em um pedaço de tempo. A experiência com aquela cliente me fez entrar em um universo especial de histórias cheias de metáforas.
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A Lua em Peixes e um Grande Trígono no elemento Ar inspiravam caminhadas por um mundo sensível e mental, que bem poderia ser a música e seus conceitos abstratos e matemáticos. Os planetas implicados nessa formação de trígonos indicavam essa possibilidade: Netuno em Libra, Mercúrio conjunto a Vênus em Aquário e Urano conjunto a Saturno em Gêmeos. Na verdade, os planetas Vênus e Netuno acrescentariam a essa conformação as delicadezas de uma vocação artística enquanto que Urano e Saturno presenteariam a criança com uma personalidade original e inteligência. Ascendente e Sol em Capricórnio prometeriam trabalho e comprometimento. Haveria conflito entre o duplo Capricórnio e o mundo de Ar do Grande Trígono? Ou com a Lua pisciana?
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As histórias me foram contadas com o encanto de valsas e aberturas de óperas. A voz articulando bem os sons junto a gestos elegantes de mãos longas. Havia nela uma integridade interna. Mas o corpo era fino e frágil.
Aos poucos eu soube de dúvidas em relação a decisões malfeitas, como se aspectos da realidade tivessem caído em seu colo. Decepção em relação a si mesma. Sua fala espalhou frases de dor pela sala, descrevendo a sensação de ter jogado sua vida fora. Ser consciente de sua responsabilidade não diminuía seu sofrimento. “Tudo o que é feito e criado, é roubado?”, ela se questionava. “Nada ficou para mim”, concluía. Até que perguntou: “O que o divino quer de mim? Por que a vida?”
Com certeza essas perguntas não eram para mim. Vinham do fundo de uma indignação. Ela queria restaurar uma conexão perdida. Eu me senti incluída nessa busca de um propósito humano que acontece aos trancos e barrancos. Mas, como algo se criara entre nós duas, eu era chamada à participação. O que dizer? Nenhuma palavra aplacaria sua dor.
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O trânsito na Lua talvez fosse o ponto mais estratégico, pela história que eu tinha ouvido. Abria-se um espaço para a libertação das mágoas do passado em direção a novas posturas. Havia também projetos de música. Ela já havia elaborado trabalhos com resultados positivos nessa área. Ela sabia dos efeitos da música na competência humana. Tinha a dimensão do que podia acontecer com as pessoas em contato com o mundo musical. Esse deveria ser o seu projeto de vida, que me parecia fora dos trilhos nesse momento. Nada poderia ser mais alvissareiro. Mas, quem sabe como manejamos nossas biografias? Será que o discurso simbólico dos planetas poderia lhe dar impulso para sair do canto em que ela se encontrava?
Quando ela se foi, eu fiquei suspensa num certo clima quase de sonho. Lá, naquela sala tão conhecida por mim, visitada sempre pelo cinturão de planetas em seu estado mítico e simbólico, o Divino havia sido invocado. Limite inalcançável, lá estava ele de alguma maneira aproximado de nós.
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Uma linguagem refinada!
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