quinta-feira, 4 de agosto de 2011

HOMENAGEM E EXPERIÊNCIA DE VIDA

                                       
A EXPERIÊNCIA E A ARTE 
    
Com quarenta e sete anos, risonho, irradiava toda a alegria pela homenagem que recebia naquela noite pelos trinta anos de trabalho como oboísta na Orquestra Sinfônica de São Paulo, onde chegara aos dezessete anos apenas. Seu pai, um sargento da Polícia Militar, o forçara a estudar música, assim como fizera com seu irmão, Roberto, maestro de sucesso).  Ele enxergou talento dos filhos. Olhar sábio.

E a noite foi sua, Arcádio Minczuk. As peças da primeira parte do concerto o fizeram primeira estrela, enquanto solava as melodias que sua respiração e alma assopravam.

Com a voz emocionada ele contou um pouco de sua vida com a orquestra: as alegrias e as dificuldades nas crises. Mas, dessa história, sobressai também a atitude paterna, a orientação da família que, embora imposta, deu certo. 

Porém, como saber o que está correto? O tempo diz se erramos ou acertamos, por uma ordem que não é lógica.  Não há cartilha para nos dar o caminho. Nesse caso, houve acerto e, pela disciplina e confiança; a arte construiu uma vida de sucesso. Que se faça também homenagem à atitude do pai!

Ainda naquela noite, na segunda parte do concerto, ouvi o ciclo completo (orquestrado somente) de Richard Wagner, em O Anel de Nibelungo. Uma de suas peças, As Valquírias, me lembrou um filme impressionante, Apocalipse Now. Intensidade e paixão, tons de drama. E a incrível cena de helicópteros se preparando para atacar.

Conversando com amigos, me dei conta de que para mim, aquele filme começava naquela cena com aquela música. E ela não sai da memória e é significativa em relação ao filme, mais ainda depois desse concerto em que senti todo o clima que inspirou Wagner em sua composição. 


É esse um dos poderes da grande arte: marcar experiências estéricas individuais. E, com sorte e afinco, marcar vidas, como a do oboísta na expressão correta de seu talento. 





  

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