terça-feira, 5 de agosto de 2014

A JANELA DO MEU QUARTO PARA O MUNDO

Já se passaram mais de três décadas desde que eu encontrei a astrologia.

Era 1981. O Papa João Paulo II sofria um atentado, Charles e Diana casavam-se como príncipes que verdadeiramente eram, o Brasil entrava lentamente na era dos videocassetes e computadores pessoais.

Observados hoje em dia são fatos longínquos. Depois do Papa João Paulo II, veio o Bento XVI e hoje temos o Francisco. O casal de príncipes se separou. A princesa morreu de acidente de carro. Ele se casou novamente com a amante. E a era do computador se instalou definitivamente de forma insuspeitada. A astrologia também mudou visto ser parte de um caldeirão de cultura e de transformações de toda espécie. 

Naquela época era uma atividade muito mais esquisita do que parece hoje a pessoas ditas sensatas. Estudar esta arte milenar, de mais de 5000 anos, que remonta aos caldeus era uma excentricidade. Era algo do meu temperamento para as pessoas a minha volta. E não adiantava nada o argumento do peso histórico que a caracteriza a meu favor ou a favor dela.

Foi com essa autoridade que ela acabou chegando a mim depois que outro objetivo havia sido concluído: uma tese acadêmica, com defesa, exame de qualificação e muito estresse.

 Depois de cumpridos os passos desse ritual, ganhei liberdade para outras pesquisas e curiosidades, desta vez sem prazos. Era mais uma trilha paralela ao cotidiano. Seria bom se ela pudesse ser relaxante. 

Recebi, então, o convite do vizinho que iria iniciar um grupo de estudos. As aulas ocorreram às quartas-feiras e nelas fui descortinando uma sequencia de símbolos e conceitos abstratos que eram ao mesmo tempo vivos, muito vivos.

Tais símbolos e conceitos astrológicos foram se instalando em meu cotidiano. Alimentavam e faziam a minha delícia e encantamento. Meu interesse era restaurado a cada novo livro. Depois apareceram mais cursos e também uma parafernália tecnológica com computador, vídeo, impressora, disquete e programas, que invadiram e começaram a habitar meu espaço.

Pouco a pouco fui entendendo o desenho do mapa natal, o maior foco de curiosidade. Cada exercício de leitura daqueles sinais era um mundo a ser desbravado, pois havia um centro que pulsava. Falava de experiências e guardava uma pessoa que lá estava escondida. Mas eu podia descobri-la até em seu mais íntimo recanto.

Havia se dado o encontro entre uma linguagem potente de imagens e símbolos e uma vocação até então desconhecida em mim. Ela foi despertando aos poucos, muito devagar. Não poderia ser de outra maneira, pois eram muita emoção e beleza juntas. 

Foi se abrindo uma perspectiva enorme de que somente hoje em dia percebo o significado. Cheguei a este lugar de onde se avista um cenário extraordinário. Daqui, vislumbro a natureza humana que se despeja à minha frente com suas dúvidas e incertezas, repetidos questionamentos contundentes e cruciais de nosso cotidiano, paradoxais e absurdos.

Dessa escancarada humanidade, sempre explodindo e rompendo os limites mais restritivos da lógica, sobra um desejo: de encontrar em meio dela a expressão mais clara e mais limpa da saúde, da cor e da harmonia.

Foi se provando insubstituível a experiência de ver pessoas se alternando perante mim, num desfile multicolorido de vida, com suas buscas, insatisfações e desafios.

Tudo isso por meio de figuras e linhas que constroem desenhos e conversam comigo. Me contam histórias.

E vivencio o momento de poder recolher, a partir do material ali generosamente vertido, uma resposta, uma solução ou uma alternativa que alivie a dor da experiência de viver, que amenize a solidão humana essencial.

Tudo isso ocorreu bem aos poucos, talvez para não me machucar, para não me assombrar. Eu não tinha noção da responsabilidade que estava assumindo perante as pessoas que se voltavam para a astrologia naquele final de século como panaceia para muitos males (ai de mim, astróloga). As respostas nem sempre seriam suficientes em relação ao que as pessoas desejavam.

De forma privada, usufruo desse espaço, que é também garantia de aprendizagem. Esse exercício intenso e contínuo tem me proporcionado uma particular perspectiva da vida. Ela se abre como uma janela de onde tenho uma paisagem cheia de pessoas e de suas experiências. Uma janela do meu quarto que dá para o mundo.
                                 

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