Na minha crença de criança, todos os domingos seriam como aqueles em que almoçávamos na casa da minha avó materna. Muita gente reunida, avós, tios e primos, muita conversa e muitas risadas. E, é lógico, a macarronada com frango que só a avó fazia tão bem.
Mas os melhores domingos, mesmo,
já começavam na sexta-feira: dia de
fazer o nhoque. Primeiro, porque era a
única casa que eu conhecia que tinha uma mesa enorme, na copa, que era lavada
com água e sabão! Sim, porque depois de toda a trabalheira para fazer a massa
do nhoque, enrolar e cortar os pedacinhos, a massa que grudava na mesa tinha
que ser raspada com uma faca e a mesa, lavada.
Nessa hora começava o melhor do dia para mim e para os primos que
eventualmente estivessem por lá: lavar a mesa e o chão da copa e da cozinha,
preparando a casa para o final de semana.
Já viram coisa melhor (para as
crianças) ou pior (para os adultos) que crianças, água e sabão, com direito a
molhar a roupa? Só quem viveu sabe como
é bom... E essa “faxina” demorava sempre
o dobro do que deveria, com a avó tentando impor uma certa ordem e a tia
ralhando com a criançada que exagerava na bagunça.
E quando terminava, nós sempre
achávamos que havíamos feito um ótimo trabalho porque, enfim, tudo estava limpo
e seco, e então podíamos ir brincar no quintal.
E a avó e a tia exaustas, é claro, por terem feito todo o trabalho e
ainda tomado conta da meninada para que ninguém se machucasse.
Mas aí a gente começa a crescer
e as coisas vão, pouco a pouco, mudando. Cada família vai adquirindo novos
compromissos, os adolescentes vão formando novos amigos e novas rotinas, os
avós vão envelhecendo e perdendo o vigor, e os almoços dominicais vão
escasseando.
E aí a gente se dá conta que
cresceu, e que não tem volta. É a
faculdade, o primeiro emprego, a ansiedade para entrar na vida adulta, tudo vai
nos afastando desses rituais da infância, mesmo porque eles também,
praticamente, já não existem mais. Passamos
tantos anos tão ocupados com o nosso próprio crescimento e com os compromissos
que temos que cumprir, que demoramos um bom tempo até nos darmos conta da
importância que eles tiveram para o nosso crescimento.
Essas reuniões caóticas, com
todo mundo falando ao mesmo tempo e rindo por qualquer bobagem, mas recheadas
de carinho e amor familiar, nos deram estrutura para dar a devida importância a
amizades duradouras e desinteressadas, ao trabalho árduo antes de esperar pela
recompensa, ao respeito pelos mais velhos, a amores que somam ao invés de
dividir, à ética e à honestidade como parte da personalidade e não como
qualidades a serem perseguidas, aos relacionamentos saudáveis, à alegria como
parte da vida e ao sonho como mola propulsora para nos levar à frente.
E assim o tempo vai passando e a
nós cabe a responsabilidade de proporcionar novos almoços de domingo. Para o núcleo familiar que ainda temos, para
os novos membros que chegaram e para os que ainda vão chegar e, assim, ir
passando essa chama para as próximas gerações, para que esse sentimento de
pertencer a alguma coisa e a algum lugar não se perca no materialismo que tenta
dominar as nossas vidas.
Autor: Luiza Bueno - Agente de Turismo
Esta crônica foi produzida durante o curso "A Crônica: conhecendo e escrevendo. Cotidiano, experiência e criação" no espaço Gaia Cultural em São Paulo/SP, durante os meses de Maio e Junho de 2014.
Autor: Luiza Bueno - Agente de Turismo
Esta crônica foi produzida durante o curso "A Crônica: conhecendo e escrevendo. Cotidiano, experiência e criação" no espaço Gaia Cultural em São Paulo/SP, durante os meses de Maio e Junho de 2014.
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