quarta-feira, 3 de setembro de 2014

ALGUMAS IDEIAS DE MARTHA MEDEIROS


Antes de mais nada, preciso confessar que nunca fui leitora de seus textos, a não ser quando eu os recebia enviados a mim por email. Sempre gostei desses pedaços de sua obra.

Mas Martha Medeiros escreveu bem mais do que eu imaginava: cerca de vinte e três livros publicados e mais de um milhão de livros vendidos. E tem uma coluna no jornal O Globo. Ou seja, é uma escritora de sucesso.

Mas, não é por esses dados incríveis em um país em que se lê tão pouco, que me detenho nela. É pela pessoa que conheci na entrevista do programa Roda Viva da TV Cultura (01/09).  

Simpática, elegante e sempre delicada respondeu a muitas perguntas pertinentes a sua obra e a assuntos gerais. Simples e bastante consciente dos efeitos de suas palavras, não omitiu opiniões mais polêmicas. Por exemplo, ela é a favor do aborto e faz ressalvas em relação ao sentimentalismo do brasileiro que, segundo ela, faz que se perca o foco. Critica nossa passionalidade e se defende dizendo que não precisa perder o senso crítico por ter laços afetivos pelo Brasil. Confessa que fora daqui se sente menos estrangeira. 

Além desses, outros assuntos apareceram no programa. Sua relação com as questões da maternidade, a preferência por não se engajar ideologicamente, observando as coisas por uma perspectiva maior. Ela pontuou a importância da arte, da educação e da cultura para preencher o “vazio existencial” que ela observa.  Há o que ela denominou “contingências da vida” que poderia ser interpretado como uma visão prática da realidade.

Houve muito mais nessa entrevista. Mas, de tudo sobrou uma visão lúcida da vida. Entabulei, desde então, uma conversa íntima com Martha. Fiquei próxima dela. Sua pessoa apareceu fora de um limbo – uma espécie de espaço inalcançável - em que ficam as pessoas que conheço pela mídia, mas de quem não tenho muitas informações. Fico tentando adivinhar o que ela escreve em seus textos, muitas vezes qualificados como de autoajuda. Não importam tais adjetivos. Sua pessoa ganhou corpo e consistência para mim. E consistência é palavra que ela mesma cita na entrevista. Que sentidos terá essa palavra para ela?

Acompanhe em seguida, em uma espécie de paráfrase, algumas de suas ideias que mais chamaram minha atenção.


MATERNIDADE E SEPARAÇÕES

Ser mãe é fantástico, mas é mais uma aventura da vida. A mulher pode colocar seu afeto em muitos locais. A questão da maternidade em geral leva em conta apenas alguns aspectos e não o seu lado encrenca.

As questões da educação são importantes e é preciso parar de educar as crianças para o eterno, para o sempre. As separações existem e são atos de honestidade. Parece trágico porque parece ser fruto de um fracasso. O fim do casamento não é um fracasso, mas uma contingência. A família continua a existir.


a LITERATURA e o processo criativo

Escrevo para mim. É autoanálise, é para narrar as angústias e sofrimentos, para encontrar respostas, para desestressar.

A publicidade me deu o treino constante com objetividade e humor, foi uma escola da síntese e da sedução. Ao deixar a publicidade, troquei de produto. A sedução literária não é consciente, mas é uma herança da publicidade. Combato a sacralidade da literatura.

Não me organizo para escrever. Tenho um espaço na sala e sou interrompida por questões domésticas e da família. Mas, sou desorganizada somente por fora, por dentro não. Vejo um filme, uma frase e daí o texto surge. Escrevo, reescrevo. Deixo o texto dormir e no dia seguinte ele é acabado.

Não faço crônica, faço uma coluna de opinião. Crônica literária quem faz é Rubem Braga que sabe escrever a respeito do vôo de uma borboleta.

Talvez o que encante os leitores talvez seja a simplicidade. Nos meus textos não há uma persona. Domingos de Oliveira disse: Nada é mais revolucionário do que a simplicidade.


ARTE E EDUCAÇÃO

O caso do menino Bernardo não traz a violência, mas a ignorância. Há um vazio existencial que a arte pode preencher. Cultura é fundamental para resolver a ignorância. Cultura ensina a pensar, abre uma visão maior da vida. 

Fui educada pelas músicas que ouvi, pelos filmes a que assisti e não somente pelas palavras que me disseram: faça ou não faça isso ou aquilo.

Um texto triste de literatura não me deixa triste, me deixa feliz. Extrai algo de bom de dentro de mim. A tristeza é mais consistente.


Confira entrevista na íntegra: https://www.youtube.com/watch?v=9TiYPItx408

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