sexta-feira, 31 de outubro de 2014

COMPOSITOR E INTÉRPRETE


Existe uma relação delicada entre compositor/autor e o artista que executa/receptor. Quais são os aspectos que merecem nossa atenção?

Uma entrevista com Lang Lang jovem pianista chinês, com mais de quinze anos de carreira de sucesso pelo mundo e que esteve recentemente no Brasil, nos conta como acontece essa relação para ele.

O jornalista João Luiz Sampaio pergunta: "À medida que amplia seu repertório, você sente que estabelece novas conexões entre os compositores e suas obras?"

Lang Lang indica inicialmente uma relação física de que participa o instinto: "É como uma enorme rede biológica. No começo você aprende Bach, Mozart, Beethoven. Mas você não consegue realmente entender a conexão entre eles, é difícil compreender, quando se é muito jovem, uma sonata de Beethoven." Segundo ele, as peças do período romântico (Chopin, Liszt, Rachmaninoff) "são mais fáceis, não em termos técnicos, mas espiritualmente, digamos. O instinto aqui, fala mais alto".

Depois dessa fase haveria, segundo ele uma necessidade de "conhecimento": "Só que, com o tempo, o instinto não basta e você começa a sentir falta de conhecimento, de aprender a música de outra forma, analisá-la, encontrar sentido no que você está fazendo."
Entre essas duas fases haveria uma passagem temporal, pois "Quando se é jovem demais, não há direção."

E ele termina: "Como intérprete, você precisa entender o que está tocando e por que está tocando e por que está tocando desse ou daquele jeito. E aí você sente a necessidade de voltar a Bach, Beethoven. Só que ao fazer esse retorno, você já sabe melhor onde quer chegar, qual o seu foco. Quando se é jovem demais, não há direção. E depois de entender melhor Mozart, você passa a ver Beethoven de outra forma, e depois Brahms, Schubert, e assim por diante. Aí a conexão fica clara."

Podemos dizer que há intervalos físicos e temporais entre compositor e intérprete. A rede biológica que ele cita seria uma dificuldade física a ser superada, uma diferença para se chegar ao compositor. A conexão entre eles se faria apenas a partir de certo conhecimento em que entra o tempo e naturalmente a maturidade do músico intérprete. Uma gradação na experiência do executante/receptor para bem realizar sua tarefa.

Essa mudança de foco no intérprete representa um salto de qualidade na leitura da obra musical.

Podemos ampliar a compreensão e imaginar que muitas de nossas experiências poderiam passar por esse crivo.

Mas, dependerá de nossa capacidade de observação e de avaliação de nossas atitudes.

Essa qualidade poderia fazer parte de nossa leitura do mundo, que seria assim enriquecida.

Muito linda é essa personagem da arte, esse jovem pianista que nos empresta sua aprendizagem.     


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